terça-feira, 15 de setembro de 2009

Relato da viagem a Sete Lagoas

Esta viagem começou na verdade a mais de dois meses. Com o retorno de Julio da Serra do Cipó-MG. Começamos a priorizar os fins de semana na pedra antes quinzenais agora semanais. Depois de idas e vindas na Fercal-DF, Cocalzinho-GO e Belchior-GO surgiu o desejo de viajar e conhecer algo novo. Claro que eu sei que sou iniciante e não mandei nada por aqui, mas em matéria de viagens até que posso tirar onda (ao todo já são 20 estados brasileiros conhecidos). Ávido leitor de todo e qualquer site de escalada me deparo com as constantes novidades de Sete Lagoas-MG e senti que aquele era o lugar certo para minha primeira trip de escalada. O próximo passo era convencer os demais integrantes.
Demorei cerca de 30 segundos para convencer Julio, outros 2 dias para convencer Álvaro e lancei o convite a Rodolfo e Fernando (Fera) na esperança de formar um bonde de 5 pessoas. Faltava apenas o habeas corpus junto às esposas, superado rapidamente pela proximidade do STF e pelas milhas da TAM de Julio e minhas que mandaram para longe as promotoras de acusação hehehe. O Fera rodou, pois conseguiu um novo emprego e assim éramos 4 aventureiros prontos e decididos a contrariar as previsões do tempo que falavam em chuva durante todo o fim de semana.
Entrei em contato com abrigo, peguei mapa, Julio conseguiu GPS (apelidado de Maria) e na sexta-feira (04/09) partimos rumo a Sete Lagoas sem almoçar, mas com sanduíches providenciados pela DJ. O assunto no carro limitava-se a escaladas, mulheres, carros e, sobretudo ao trabalho psicológico para que Rodolfo supera-se a síndrome do TRAVA . Maria sofria da mesma doença que Rodolfo, uma tendência incontrolável de sair da rota da via, mas não atrapalhou, pois de Brasília a 7L é uma reta (BR040).

1º dia - Aê você é o Fred?
Chegamos em 7L após 7 horas de viagem somadas a meia hora de idas e vindas na rua do abrigo que não segue nenhuma lógica numérica a não ser par de um lado ímpar de outro. Chovia e a inscrição do número da casa do Abrigo é bem apagada
Na porta do Abrigo a surpresa

– Ninguém em casa!

A fome apertava, o cansaço da viagem também e alguém pergunta:

- Aê Esdras liga pro Peixe, o Fred disse no email que era pra ligar pra ele.

Lembrei que não peguei telefone algum e começa então os xingamentos de meus companheiros que ameaçavam me jogar na lagoa para que eu achasse o Peixe. A única coisa sensata a fazer era ir comer e torcer para quando voltarmos eles já estarem em casa.
Fomos direto para as margens da Lagoa do Paulino o único referencial de diversão em 7L (todos menos a Maria sabiam como chegar lá). Após avaliarmos as inúmeras opções gastronômicas de 7L optamos por aquela que mais chamou a atenção – a torre de 4 litros de chopp – quero dizer pizza.
Ao entrarmos na pizzaria olho para todas as mesas com a sensação de que todos olham para nós e reparo em um rosto familiar. Como bom telespectador do CSI lembrei que vi aquela cara em algum site e pela camiseta era escalador.

– Aê você é o Fred?
– Não, eu sou o Peixe.

A mesa estava ocupada por Peixe, Isabela (namorada do Peixe), Dany Andrada Cover (Ricardo Cosme), Ângelo Gomes, Dolph Lundgren (na verdade o nome do maluco era Matt Halls) e por Raquel Guilhon. Quando ouvi a galera do Rio de Janeiro (população famosa pela afinidade com a boêmia) falar que ia dormir às 21 horas em plena sexta feira, eu tive certeza que eles levavam a escalada a sério. Dolph, no entanto não nos dirigiu a palavra, mas descobrimos que ele fizera isso por que era escocês e provavelmente não entendera nada do que falávamos.
Após o chopp e a pizza fomos ao abrigo dormir e nos prepararmos. A vontade de todos era dormir até as 8 horas da manhã (afirmada pelos alarmes previamente ajustados), porém o sol invadiu o quarto às 06h e rapidamente todos já estavam de pé e arrumados. Rodolfo dirigiu-se ao banheiro e ao dar de cara com Dolph tomou um susto tão grande que adiou por um dia a defecação.
Perguntamos aos cariocas como chegar a pedra e para lá rumamos, no caminho pausa para um café e compra de mantimentos em uma padaria e uma longa espera pelo desfile de crianças de alguma escola local. Saímos da cidade e como todo bom brasiliense acostumado com números nas ruas, nos perdemos!
Após o telefonema para o Peixe (sim agora já possuíamos o número) chegamos ao estacionamento jurando que a caminhada até a base da via era algo semelhante à Fercal (metros de pura tortura) e nos surpreendemos, menos de 15 metros de trilha e estávamos no Setor 45.
Fred Viana e uma galera mineira já malhavam a via Dupla Dinâmica (8b) numa parede negativa jamais vistas pelos candangos acostumados com a verticalidade de nossa região. A opção foi "dar um peguinha" na via Felomônio (7a/b) negativa com agarras perfeitas.
O escolhido para equipar a via foi Julio que passou o primeiro lance tranqüilo equipando até a penúltima proteção por conselhos de Fred que falou sobre as abelhas no fim da via. Batata entrou na via, desenvolveu bem malhou os movimentos, Rodolfo entrou bem, mas pediu para travar na altura da terceira proteção e então entrei na via e pasmem... Não passei do primeiro movimento.
Já com lágrimas nos olhos e pensando: - O que é que eu vim fazer aqui! Assisti Alex (Alexander Gessner), um paulista acelerado entrar na via com uma trilha sonora questionável, mandar em menos de dois minutos equipando a última chapa sem nem ver abelhas. Julio entrou, tomou quedas desequipou a última chapa e então deu início a aula que nenhum dos brasilienses conhecia: "Como passar um perrengue monstro desequipando uma via negativa". Rodolfo entrou para ajudar e foi calmamente desequipando, caindo e quase me aleijando na seg.
Seguimos ao Setor Intermediário que estava distante cerca de 200 metros por uma trilha limpa e suave. Chegando lá percebemos a quantidade de vias em uma única parede com uma galera escalando. O primeiro destaque foi a entrada de Raquel (mina carioca) que atropelou uma via 8b com um ritmo constante. Ao lado estava Dolph equipando um 8c/9a (Dois Lados) com um clip stick profissa. Nesse momento Álvaro já havia repensado seu preconceito com clipstick e quase perguntou por quanto Dolph vendia o dele.
Eu, na tentativa de superar o trauma da Felomônio pensei comigo: - Eu não mando nada mesmo, estou aprendendo a guiar e essa parede tem pelo menos umas 5 vias entre 5º e 6º grau. Decidi pela terapia da positividade. – Vou mandar tudo o que está ao meu alcance e se possível equipando e guiando.
Álvaro e Julio se jogaram em um 6ºsup mineiro que facilmente seria um 7a brasiliense (sem diminuir nossos escaladores, mas a via tinha um movimento dinâmico para um reglete que era cabuloso).
Rodolfo como bom e generoso amigo me deu seg em duas vias Quase Perfeito (5º) e Nas Profundezas do Armário (5º) encadenando as duas também para desequipar. Decidi entrar na Aranha Sai de Mim (6º) equipei inteira até o topo, bundei na hora de costurar e cai (mas eu considero que mandei pq equipei até o fim). Rodolfo encadenou e Julio entrou para limpar a via.
Mais uma vez Rodolfo demonstrou que a ausência da esposa compromete o esporte. Não comprou comida e ficou choramingando dizendo:

– Meus braços estão me puxando para cima.

Todos refletimos que na escalada essa é a função dos membros superiores, mas o que o nobre colega quis dizer era que estava com câimbras insurpotáveis.
Álvaro aproveitou a existência de um 7c (Perdidos na Noite) equipado pela galera carioca e aproveitou para malhar também. Aproveitamos o restinho da tarde assistindo aos mineiros e paulistas escalando tudo no Setor Intermediário. Retornamos ao Abrigo (coisa de 10km de carro) tomamos aquele banho merecido e ficamos trocando idéia com os demais habitantes na cozinha. Legal perceber o interesse da galera de outros estados em escalar em Cocalzinho-Go faz a gente valorizar o que temos próximo de casa.
Fomos para o centro de 7L que nada mais é do que as margens da Lagoa do Paulino, e caímos na besteira de ficar dando voltas a pé (após toda escalada) até decidirmos pelo mais óbvio comer na ferinha e beber cerveja em algum bar. Após pastéis e churrasquinhos lá estávamos em uma mesa de bar bebendo na companhia de Peixe e namorada, 6º (Luciana Barros) e Vovó Garota (Patrícia Caetano).
Conversa vai, conversa vem o grupo decide passar no Abrigo e seguir posteriormente para algum boteco Rock'n Roll. Nesse momento eu quase desisti e dormi (Rodolfo também dava sinais de derrota) mas tinha certeza que a noite prometia histórias e me mantive firme. Após rodar todas as ruas de 7L encontramos o bar fechado para reformas. O mais lúcido a fazer seria ir para casa, mas não! Quem está no inferno abraça o capeta, fomos a Cabana do Peixe beber as saideiras.
A mesa do bar parecia uma conferência com inúmeros assuntos. Batata já demonstrava interesse e pontos comuns com 6º (coisa de comunicadores sociais), Peixe e namorada já estavam desmaiando na cadeira e eu, Rodolfo e Julio ficamos suportando os papos de Vovó Garota (assim apelidada pela estranha necessidade de afirmação de sua idade avançada em relação aos demais membros da mesa). Retornamos ao Abrigo certo de que aquelas cervejas seriam cobradas na pedra no dia seguinte.

2º dia - "Mestre dos Magos"
O sol mais uma vez foi generoso e às 7 horas estávamos prontos e de banho tomado rumando para a padaria. Ao chegar lá e comer o pão com ovo mais sem graça da minha vida acompanhado de café, Julio como bom atleta buscou o suplemento indicado para todos: Coca-cola gelada em uma garrafa de 1250ml de vidro (coisas que só 7L tem). Mais animados procuramos rango em outro lugar, mas não arrumamos nada.
Nosso objetivo era passear e conhecer os demais setores (quem sabe escalar um pouco após a ressaca passar). Fomos para o Setor Carinha (Bloco Carinha) com vias altas e alucinantes. Já estávamos pensando em qual entrar quando Fred surgiu como o "Mestre dos Magos" informando a graduação e betas das vias e sumindo rapidamente. Após uma análise pouco criteriosa Julio decide equipar algo que para ele era uma 7a. A primeira costura colocada a seg a postos e Julio realizou apenas o primeiro move e desistiu (parecia algo insano demais). Depois da surra resolvemos retornar ao Setor intermediário passando pelo Setor Macumba.
Incrível a variedade de vias e estilos em 7L cada hora é uma surpresa. O Setor Macumba representa uma cúpula negativa ao extremo com concreções insanas, mas nada acessível ao nosso grupo. Na passagem entre o Setor Macumba e o Setor Antigo encontramos novamente o "Mestre dos Magos" Fred que apontou dois 6ºsup. Julio equipou bem a via "Do Cabulete" caindo em alguns movimentos. Rodolfo e eu entramos de Top Rope e Batata atropelou a via no estilo speed climb(mas estava de top rope). Começou a chuviscar, mas nada que assustasse.
Fomos ao Setor Antigo onde fizemos fotos idiotas. Interessante a semelhança da parede deste setor com o Vale da Lua na Chapada dos Veadeiros-GO (é um vale da lua na vertical e sem água). Este setor é um mar de vias com abaulados.
Decidimos ir escalar de verdade no Setor Intermediário. Eu e Rodolfo entramos em um 5º positivo, mantendo minha terapia de equipar e encadenar.
Julio e Batata malharam a Metamorfose da Buterfly 7a e para finalizar o dia após minha insistência entramos na Ressaca(6ºsup). Essa é uma via clássica do Setor Intermediário, com agarras inéditas e descansos como "entalamento de corpo". Batata equipou com quedas, entrei costurando até a 3ª costura e cansei (retornei a Brasília com este trauma) e Julio limpou.
Retornamos ao Abrigo na certeza de não repetir a noite de bebedeira já que partiríamos no dia seguinte após meio dia, ou seja teríamos mais uma manhã de escalada.Na cozinha do Abrigo ficamos curtindo as mixagens de Dolph que agora já se tornara nosso amigo e conversando com a galera carioca. Um fato espantoso era Dani Andrada Cover malhando pesado após um dia de escalada. Senti-me culpado e abri uma cerveja hehehe.
Sentamos para comer carne (proteína necessária) e beber cerveja. Falamos todas as asneiras possíveis e voltamos ao abrigo para beber e curtir som.

3º dia - TRAVA!!!
Mais uma vez acordamos cedo, arrumamos tudo e fomos para a pedra resolver algumas pendências.
Batata afirmou que encadenaria a Felomônio (7a) sacando costura (como demonstra seu olhar na foto). Entrou bem, caiu na penúltima proteção, mas terminou de equipar. Como choveu muito a noite, Álvaro descobriu agarras encharcadas e passou os betas para Julio que entrou em seguida e encadenou (mesmo com toda a umidade da pedra). Entrei novamente, fiz o primeiro move, segui bonito e quando ouvi a frase :

- Se estiver bem costura!

Lembrei que não estava de Top Rope e adrenei "TRAVA!!!". Rodolfo entrou e malhou os movimentos demonstrando que com um pouco de estímulo a cadena seria possível (quem sabe na próxima).
Fomos ao Setor Intermediário e Batata insistiu em entrar em um 7a. Pela disposição em equipar todos achávamos que ia rolar até o fim mas Álvaro desistiu na 3º proteção e lançou a campanha "Não abandone seu Cordelete" fazendo o rapel pelo cordelete e recuperando o mesmo.
Após as despedidas entramos no carro certos de que 7 Lagoas era um local mágico, acessível a todos os níveis de escaladores, com uma galera gente boa demais e que vem realizando um grande trabalho em prol da escalada no Brasil (como o Fred diz "é uma galera com alma de sherpa").
Difícil foi conter a constante vontade de comparar a acessibilidade e a quantidade das vias com as dificuldades do Planalto Central (a Fercal nunca mais será a mesma). Depois de grandes debates sobre graduações (comparando a perspectiva mineira e candanga) desembarcamos com uma pizza quentinha nos esperando e com a certeza de que essa foi a primeira de muitas.

Fotos

5 comentários:

Fred Viana disse...

hauhauhauhauahuahauahau.....mestre dos magos foi otimo!!! So apontando o caminho para o portal!
ôh, isso é nome de via: Caminho para o portal....ah mulek!
legal demais o relato da viagem! é isso mesmo...esse é o espirito!
Abraço
Fred Viana

Fátima Gaya disse...

qdo voltar na serra do cipo, venha conhecer a pedra do elefante que fica no alto palacio, e uma montanha elefante com grau de dificuldade media,e você ainda tem opçao de visualizar inscrições ruprestre na propria pedra, do lado tem um restaurante legal e uma pequena pousada chamada barriga da lua. que pode ser ponto de apoio.

Vovó garota disse...

Ahahahha, a internet e suas surpresas! Então, venho através desta dizer que em meio a 50 pessoas que conheci no abrigo vocês foram os mais bocós, papo ruim e desprovidos de humor que eu conheci. Aproveitando a deixa: nessas horas eu louvo aos deuses por ter mais de 30 e ter uma cabecinha mais evoluída que uma ameba...volta pra Goiânia, oferenda! : p

Angelo! disse...

Fala, pessoal!
Muito maneiro o relato da viagem de vocês...
Que bom que vocês curtiram, aquele lugar é show!
Valeu aí pela lembrança...
Grande abraço,
Angelo

Fátima Gaya disse...

ABERTAS AS INSCRIÇÕES PARA O

1ºCONCURSO DE FOTOGRAFIA DA SERRA DO CIPÓ


Maiores informações no http://fotosserradocipo.blogspot.com.