segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Baseado em fatos reais 4 – Capítulo I – (Minissérie em 4 capítulos)

Júnior é um jovem muito ativo que toda hora inventava um esporte novo e dessa vez ele estava realmente ligado a escalada em rocha. Mesmo seus pais não vendo a menor razão para alguém viajar para longe, dormir em barracas e ainda por cima se machucar inteiro subindo em pedras, ele seguia escalando, andando em corda bamba e malhando como um louco.
Júnior deixou de fumar cigarros, emagreceu e parece mais feliz e disposto, além de seu corpo ter ficado mais definido. Tudo ia bem até que todo mundo começou a questioná-lo sobre namoradas. No início ele nem ligava, mas aquilo já estava passando dos limites.
No carro a caminho do almoço de domingo na casa de sua avó paterna o pai resolve puxar conversa.

[Pai] –Júnior, que bom que você abriu mão de escalar esse fim de semana para visitar sua avó. Estou muito feliz por isso.
[Junior] –Qual é pai?! Eu sou um cara família, mas a escalada vem me consumindo mesmo. Só vim hoje porque tô lesionado.
[Mãe] –Pois é meu filho desse jeito não sobra tempo nem pra você se divertir e namorar. Meu bebê já está na idade de dar início a algum relacionamento que leve a um casamento. Não acha?
[Junior] –Pô mãe, escalada é a minha diversão e nem estou afim de namorar nesse período não. Não quero ninguém regulando meus horários ou cobrando minha presença. Vamos mudar de assunto. Qual vai ser o rango na Vó?
[Pai] –Seus tios todos estão lá, vai ter churrasco, galinhada, feijoada e um pernilzinho na brasa.
[Júnior] – Carai véi, é um almoço ou um campo de concentração? Só morte e sangue animal inocente. Vou ficar só na salada mesmo.
[Pai] –Pelo amor de Deus. Você pode até comer só salada, mas faz isso escondido e toma pelo menos um copo de cerveja perto dos seus tios para ninguém desconfiar que tu é assim meio fresco.
[Junior] –Porra de meio fresco. Eu só não me destruo como vocês, mas não sou menos homem por isso.

Chegam na casa da avó e o churrasco já acontece na beira da piscina, os tios resolvem puxar papo com Junior.

[Tio 1] –Eae Júnior? Quanto tempo ? Tá magrinho hein?
[Tio 2] –Prova essa picanha pingando?
[Tio 3] –Qual vai ser Juninho: uísque, vodka ou cervejinha mesmo?
[Junior] –Tem uma coca zero ai?
[Tio 1] –Como é que é? Aqui nessa casa homem só bebe álcool. Que papo de baitola é esse?
[Pai] –Nada, ele está querendo levar uma coca zero pra mãe, ela anda de regime. Sabe como é? Deixa que eu levo Júnior. Toma sua cerveja em paz.
[Junior] –Hãn?! Ah tá. Passa uma cerveja ai então.

O que Junior não faz pra deixar seu pai feliz? Duas horas, cinco latinhas de cerveja e alguns pedacinhos de carne depois.

[Tio 1] –E então Júnior? Como é que vai a mulherada? Pegando geral ou tá namorando?

Já bêbado, Junior começa a abrir seus sentimentos para a família.

[Junior] –Pow tio ando meio devagar. Vez ou outra rola alguma coisa, mas por enquanto só no papo da internet mesmo.
[Tio 2] –Porra na tua idade eu já tinha 2 filhos. Você faz o que dá vida?
[Junior] –Além de ganhar mais dinheiro que você, eu escalo em rochas, vivo por ai, viajando, conhecendo o mundo e levando uma vida saudável.
[Tio 3] –Mas não há nada mais saudável para um jovem do que ter uma vida sexual ativa. Pense nisso.
[Pai] –É isso ai. Eu vivo falando isso pra ele. Um dia desses achei até que ele ainda era virgem.
[Tios] –hahahahahahahahaha!!!
[Mãe] –É mesmo. Desse jeito vou ter que esperar a Maria para me dar netos, pois desse mato ai acho que não sai nada .
[Tias] –kkkkk!!!
[Tio 2] –Já sei por que você escala. Por que está subindo pelas paredes!!!

Todos começaram a rir sem parar.

[Tio 1] –Tá se acabando na mão, eu vejo os calos daqui!!!

Mais algumas risadas exaltadas da família e Júnior volta calado, triste e abatido para casa. Com dor de cabeça da ressaca alcoólica e moral, afinal tinha quebrado sua dieta de proteinas magras. Junior também estava triste por se sentir sozinho e por ter sido motivo de chacota. Segunda feira na academia de escalada onde treina, Júnior busca compreensão nos amigos.

[Júnior] –Carai véi minha família é foda! Entrou numas de me pressionar para namorar. Fiquei deprimido esse fim de semana.
[Mosca] –Puts se fosse eu ia aproveitar pra pegar o carro do coroa e pedir grana com a desculpa de conquistar uma mina. Diz aê leke?!!
[Júnior] –Mosca deixa de ser mané. Eu trabalho, tenho meu carro e minha grana. Não sou zela assim não. O pior é que eles têm razão, estou na seca mesmo. Preciso de uma mina.
[Mosca] –Falando em mina, você já conheceu a princesa que escala aqui no muro no horário mais tarde?
[Júnior] –Não? Qual é?
[Mosca] –Meu Deus. É maravilhosa! Hajjaaaaa Coraçããoo!!! Vale a pena ver de novo!!!
[Júnior] –Vou ficar aqui até mais tarde então, mesmo o professor pagando sapo para eu ir embora.
[Mosca] –Se consagra Júnior! Aquela ali se você pegar é pra casar. A mina é gata mor!!!

Júnior esse dia aliviou o treinou e até esqueceu a lesão no cotovelo. Quando acabou seu horário, foi ao vestiário, lavou a mão, limpou o sovaco, revisou o desodorante e ficou fazendo cara de quem acabara de chegar. De repente ela adentra ao muro, o nome dela é Dalila, quase igual ao nome daquela escaladora famosa Daila Ojeda. Vem em meio ao cheiro de chulé, suor e magnésio e a gladiadores pendurados nas paredes. Calça colada, blusinha e trança no cabelo. Sapatilha e saquinho de magnésio na mão. Seu corpo dispensava comentários, milimetricamente esculpido por anos de escalada, tudo era músculo, tendão e beleza.

[Dalila] –Qual é Bêra? Qual vai ser o treino hoje?
[Bêra] –Faz quatro entradas de seis minutos pra aquecer que vou te passar uns boulders.
[Dalila] –Beleza. Mas aê, vou pegar leve porque amanhã vou fazer um "night climbing" em Cocal*.

Neste momento Júnior sentiu as mãos suarem, o coração palpitar, as pernas tremerem como se estivesse no crux da via mais forte da sua vida. No som da academia Bob Marley cantava: "Is this love, Is this love that I'm feeling?".

Continua…

*Cocalzinho-Go localiza-se a aproximadamente 120km de Brasília e possui um grande potencial para a prática de boulder e escalada esportiva. Escalar à noite neste local é um hábito comum dos escaladores brasilienses e goianos.


Para conhecer mais sobre a vida e os sofrimentos de Júnior leia também:
Baseado em fatos reais 1
Baseado em fatos reais 2
Baseado em fatos reais 3

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Mulheres que amamos!

Diretamente do Leste Europeu o blog AVPAF apresenta a eslovena Maja Vidmar.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Campanha pela Escalada - Vote Felipe Camargo para GoOutside

A revista GoOutside está lançando uma eleição para escolher o melhor GoOutsider do Brasil em 2009, premiando um atleta nacional que tenha tido destaque no ano de 2009 em atividades outdoors ou de aventura.

Como escalador não posso deixar de fazer uma campanha para que votem em Felipe Camargo (Felipinho/Pikuira), pois, apesar de não conhecê-lo pessoalmente acompanho seus feitos.

 O jovem escalou muito em 2009 mandando vias em uma graduação inédita no Brasil. Felipinho foi o primeiro brasileiro a escalar um 11a confirmado, também um 11b e um 11c tudo na gringa e com pouco apoio. Sem contar as primeiras ascensões de vias difíceis do Brasil como a Dor é o Poder (10b/10c) e  Cabra da Peste (10b/10c ou quem sabe 11a) fora ter mandado o boulderdenominado O Dia Santo V13/V14 .Recentemente o atleta obteve patrocinio da Evolv.

 Enfim, faço campanha pois acredito que seja uma maneira da escalada (em todas suas vertentes) ser melhor publicizada e incentivada, ainda mais em tempos de "caça aos escaladores" com vários locais fechando e tornando a escalada proibida por argumentos que provam o desconhecimento da sociedade em relação à nossa prática.
 
A premiação de Felipinho pode ajudar a estabelecer uma nova imagem nacional a respeito da escalada.

 É isso ai quem quiser votar é rápidinho, basta clicar em: http://gooutside.com.br/FaleConosco/Fale/form.asp

 

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

FERCAL – Relato Rimado do domingo animado

Domingo à tarde, diante do sol que arde

Não há outra opção. Escalar já faz parte.

Bonde formado, Julio, Esdras e Pati,

Rodolfo e Monique e o estreante Tejima,

Todos na missão de tocar pra cima.

A Fercal era o local,

Corrimento geológico era a via

Deixei a família na Rodoviária que partiu rumo a Bahia

Segui na correria, pois fugir do Faustão era tudo o que eu queria

Julio equipou retirando a lama

Esdras apanhou confirmando a fama

Patricia quase mandou, mas a via engana

Rodolfo limpou tremendo de adrenalina

Assustando até Monique, a sua menina.

Na Pança de Mamute

Deu-se a primeira vez de Tegima

Julio chega e tudo ensina

O estreante até se anima

E escala utilizando um "chalk bag" de menina

Patricia pela primeira vez escalou guiando

E sua evolução seguiu demonstrando

Mandou sem tremer e fez até procedimento

Ficando na pilha de retornar à Corrimento.

Veja aqui as fotos do domingão

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Cocalzinho-GO by Night – A primeira vez a gente nunca esquece.

Dia de Reis, 5 de janeiro. Após quase 100 emails rolando na "banda podre" ao longo do dia eu já estava ficando fissurado para escalar. O combinado era realizar um bate volta em Cocalzinho-GO para um night climbing. Fato que para a maioria de nós significava a primeira vez. Possuíamos 3 crashs sendo um deles com as dimensões do Mondo (crash que o Álvaro mandou fazer na Alto Estilo e que ficou playboy) , o carro comportou numa boa.

Minha chefe me chama para uma reunião às 17:45h o que inviabiliza minha saída mais cedo. Partimos do Núcleo Bandeirante às 18:50h já sob uma leve chuva que começou a minar a esperança de escalar. Encontramos a segunda metade do bonde na Via Estrutural (Leandro, Grazi e o inédito em bondes do AVPAF Danielzinho (escalosaurus nanicus comediantus) e mesmo sob a intensa chuva seguimos para Cocal.

Cada km percorrido gerava o desespero dentro do carro pois era muita chuva ainda no engarrafamento em Águas Lindas-Go . Chegamos ao absurdo de ligar para um amigo do Fera em Pirenópolis-Go para perguntar como estava o tempo.

– Por aqui não choveu, mas o tempo tá fechando.

Rodolfo já questionava sob a sanidade do nosso bonde, eu já achava que ia dar merda, o Fera manteve-se calado e Julio oscilava entre um "vamos nessa" e um "p.q.p o que nós estamos fazendo". Algumas frases clássicas deste momento:

- Sabe o que é pior, é que eu sei que vocês não vão desistir e eu nem posso descer do carro. Eu não trouxe um Anorake, vou ter que ficar aqui dentro senão vou morrer de frio!!!

-P.q.p, o Goiás é uma das regiões com a menor umidade do ar no Brasil, tinha que chover logo hoje? Tanta gente pelo mundo precisando de chuva pra plantar.

- Acho que a culpa é do Danielzinho, o cara nunca escalou conosco, foi só ele aparecer que a chuva aumentou.

Todos apelavam para São Pedro pedindo um pouquinho de boa vontade. Nesse momento lembramos dos dizeres da galera do NO DAB e acreditamos na "surrealidade da mágica transcendental e mística de Cocal", local onde a simples fé de escaladores e a energia da rocha evitam que a chuva caia em dias de escalada. Em meio a gritos todos diziam: -Não chove em Cocal!!!

Já em meio à neblina, sem horizonte e próximo a uma subida que permite a visualização de Cocal percebemos que não só o tempo estava mais limpo como rolava um mini pôr do sol em plenas 20h e o asfalto estava seco. Kammonnn !!! A vibração estava de volta. A outra metade parou para comprar pamonhas e seguimos para a Casa da Cobra ou Florestinha*.

Após trancos e buracos da estrada chegamos ao estacionamento onde percebo que esqueci a head lamp, mas Julio me cede uma. O Lampião do Leandro parecia um poste de tão forte, não seria por falta de luz que não escalaríamos. Dispomos os crashs e mochilas na proximidade de boulders famosos como o Mui THC, Limão etc... Danielzinho começa a noite com boas entradas no Mui THC, mas não finaliza por falta de coragem (tava só aquecendo hehehe). Leandro e Julio se encaixam bem, mas não fluem. Rodolfo e eu levamos aquela surra para tentar o movimento inicial e nada. Resolvemos ir para algo mais simples.

Escolhemos um tetinho que possuía uma pedra inferior, agarras invertidas (babadas) e movimentos bem definidos. Danielzinho depois de muito custo manda bonito e da descida aplica uma voadora com os dois pés no Julio; Leandro chega bem, mas não domina, Julio entala o joelho no teto, manda um foot hook nas alturas, se banca, e na virada não acha nada e não domina. Eu me surpreendi comigo mesmo ao conseguir fazer os movimentos iniciais do boulder, mas era forte demais para mim, assim como Rodolfo que fluiu bem mas não mandou. Fera entra e passa perrengue no movimento inicial e fica por isso mesmo. Grazi manda um chimarrão quentinho estimulando a galera.

Danielzinho decide repetir o boulder, faz outra leitura, vem firme e no momento da pendulada chuta minhas partes baixas e as do Fera. Eu até tentei ficar calado fazendo cara de seg, mas precisava expressar a dor. Quando achei que ele estava bem, já na virada do boulder solto com a voz fina de dor, a frase: - Carai o cara chutou meu saco!!! Danielzinho despenca do alto do boulder tendo uma crise de risos seguido de todos no local.

Já recuperados do riso, tentamos ainda um boulder que segundo Rodolfo chama-se "Concreções" ou "Fezes" (???), ninguém evoluiu o boulder mesmo após Rodolfo decifrar o movimento inicial. Partimos para uma aresta bem quebradiça que foi mandada por Danielzinho e Leandro.

A alimentação foi um caso a parte: pamonhas, bananas, bombons, mas o destaque vai para o x-egg-salsicha-bacon-salada-plus que pingava óleo levado pelo Danielzinho e destruído pelo Rodolfo (discípulo do Bêra**). Até um rato do local babou pelo sanduba.

Danielzinho: –Olha aquela constelação é o Cinturão de Órion.
Rodolfo: -E aquela outra ali se chama "o hambúrguer sumiu".

Para finalizar fomos para o bloco do "Bem Vindo à Casa da Cobra" onde realizei uma boa entrada, mas não consegui mandar pela dor nas mãos. Leandro manda o boulder de papetes e Danielzinho de tênis, Julio entra, queima a mão e deixa pra lá por que já mandou. Então para finalizar a surpresa da noite, Fera manda o boulder sem chorar.

Na volta pra casa, às 2h da madrugada meu carro fica sobre uma pedra já no final da estrada do parque. Descemos, arrastamos um pouco o carro que saiu numa boa. Voltamos na estrada passando sustos pela existência de cachorros e animais na pista, o carro na reserva da gasolina e falando merda aos montes para vencer o sono. Rodolfo estréia o quarto de hóspedes da minha casa inaugurando também o crashpad do Álvaro como cama.

Como toda a primeira vez doeu um pouco, passamos momentos de medo e ansiedade (como na hora que o alarme do carro do Leandro disparou) e nossa atuação não foi das melhores, mas ao final foi muito bom e todo mundo ficou querendo mais.

Semana que vem FERCAL by Night nas vias esportivas, quem se habilita???

Fugindo da rotina que fere nos como açoite
Desafiamos nossos limites na calada da noite
Testamos nossa fé, mantendo a esperança
Que após a tempestade sempre vem a bonança


Aos olhos do mundo um momento banal
Aos nossos a descoberta do poder celestial
Que mesmo diante da chuva torrencial
Mantém seca e abrasiva a pedra de Cocal!!!


Veja algumas fotos dessa empreitada.

*Há setores e boulders em Cocal que possuem dois ou mais nomes. Não temos a menor intenção de entrar nesse debate.
**Rodrigo "Bêra" (escalosaurus nanicus) é famoso por sua habilidade de solicitar e consumir o rango de seus companheiros de escalada.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Escalada da Virada: Boulder, Aderência e uns quilinhos a mais

25 de dezembro

Natal, ressaca monstro e coração apertado por não comparecer ao tradicional almoço na casa do Caneca (coisas que a promoção de passagens faz).Na fila gigante do aeroporto de Brasília eu e Julio cheio de mochilas, equipos e disposição para escalar no Paraná. Logo de cara inauguro mais uma da série "coisas que só acontecem com o Esdras": a passagem comprada com 1 mês de antecedência não foi creditada pela empresa de cartão de crédito, resultado: confusão, compra de nova passagem à vista e correria com direito a minha queda na escada rolante do aeroporto.

O avião foi um caso a parte. Ficamos a frente da saída de emergência onde a distância para as pernas é curta e a poltrona não reclina. Sorte que o vôo não encheu e pude deitar em três poltronas onde descansei e deixei meu orgulho e dignidade, pois as aeromoças me viram em posições comprometedoras e ainda fedendo a bebida. Saio do avião com a certeza de que todos riam de mim.

Chegando em Curitiba uma grande surpresa, o Sol. Lindo dia, 30°C.Após o tradicional almoço com a família da Pati (com direitos a questionamentos sobre nossa situação conjugal afinal morar junto sem cerimônia de casamento ainda é uma afronta para a sociedade hehehe) voltamos para casa ainda cansados da maratona no aeroporto, definitivamente um dia para comer e dormir.

Dia 26 – Na pilha.

Passadinha na Território (loja de escalada) para comprar aquela calça bonita (hehehe) e um presente pra Pati.Julio consumista também marcou a presa num Anorake Solo. Fizemos amizade com a galera da loja e marcamos para o dia seguinte uma escalada no Anhangava. Eduardo (Território) nos guiaria até as tradicionais vias do granito paranaense. Fomos ao aeroporto buscar Monique e Rodolfo que também estavam motivados para escalar e decidimos partir para a Chácara da família da Pati, tomar banho de piscina, de lago, jogar sinuca e uma cervejinha até a hora de buscar Dani no aeroporto. Tudo estava perfeito, jantamos e fomos dormir cedo ansiosos pela escalada.

Nem fudendo!!!

A madrugada foi de intensa chuva (pense numa chuva) e a todo o momento éramos acordados por trovões e relâmpagos. Às 6h ligo para o Eduardo e pergunto: - Aê Eduardo será que rola de escalar hoje? Resposta: - Nem fudendo, se fizer sol quem sabe amanhã a pedra seca. Lágrimas nos olhos voltamos a dormir revoltados com São Pedro.

A chuva parou, mas o tempo tava feio demais. Após uma rápida assembléia durante o almoço na churrascaria, resolvemos que seria melhor curtir a casa da praia da Pati em Shangri-lá já que a casa em Curitiba estava em obras e estávamos todos dormindo no mesmo quarto. Outra motivação para fugirmos era o constante explodir de fogos de artifício que já estavam enlouquecendo a todos.

Fazer o quê ??? – Praia e boulder!!!

Para nossa surpresa os dias na praia estavam de sol, água morna e transparente como nunca vista no litoral paranaense (juro que parecia a Bahia). Dois dias de muita cerveja, sol e peripécias culinárias como sashimi de robalo, estrogonofe de camarão, ostras e cavala na brasa... Mas faltava algo: a escalada.

Decidimos ir a Ilha do Mel e tentar alguns boulders mesmo sem crashpad, pois a base de areia e nosso nível infantil de escalada não apresentaria grandes riscos. Descemos em Encantadas seguimos para gruta onde existe uma via esportiva completamente enferrujada e encontramos no canto direito da praia um tetinho baixo que merecia um boulder. Abrimos nosso crash (uma esteirinha de plástico do Rodolfo) e fomos a batalha. Julio viu o problema e em menos de 3 entradas fez o FA do boulder Vovó Garota V(ostra). Pati reduziu um movimento forte e abriu a variante Vovó V(zela) repetido por mim. Rodolfo repetiu o Vovó Garota e Dani se machucou inteira tentando o boulder (ralou o sovaco, a barriga... parecia que tinha levado uma surra).

A pedra na Ilha é um caso a parte, uma mistura de Cocalzinho-GO em alguns pontos com abaulados em algo que creio ser granito.

Julio teve a brilhante idéia de darmos a volta na Ilha, sob o Sol escaldante de meio dia. Uma caminhada de 5 km pela beira mar. Valeu a pena, pois aproveitamos para dar um pega em uns boulders que já apresentavam marcas de magnésio e em outras pedras. O lugar é simplesmente alucinante, blocos por toda a extensão da praia, uma gruta com fendas dignas para abrir vias esportivas, é um paraíso perdido, isolado e que infelizmente vem sendo deteriorado pelo lixo deixado pela galera ou trazido pelo mar.

Chegamos ao outro lado da Ilha, morrendo de fome, dedos e braços ralados e com início de insolação, mas felizes demais, pois até o momento era o mais próximo de escalar que chegamos. Passamos o resto da tarde dormindo na praia, tomando banho na enseada e curtindo o sol.

Retornamos para casa em Shangri-lá para mais um dia de comida, praia e morgação.

Virada do ano!!!

A chuva chegou ao litoral e decidimos fugir dela. Visitamos a cidade de Morretes onde comemos o tradicional Barreado (comida "levinha" com carne cozida, farinha acompanhada de casquinhas de siri, camarões, peixe, mariscos, e muita, mas muita banana de todas as formas possíveis).

Todos estavam estufados de tanto comer e retornamos a Curitiba pela Estrada Graciosa que essa época do ano é simplesmente maravilhosa com hortênsias azuis floridas, cachoeiras, abismos com neblina... Vale a pena conferir.

A virada do ano é um caso a parte com muita comida, bebida e choradeira de Pati e família (Pati foi eleita a Mulher Cebola, pois onde passava fazia alguém chorar.Coisa de bêbada).

O dia seguinte foi destinado à ressaca com direito a todos na cama, TV a cabo e muita piada até a noite, pois Rodolfo ao acordar ainda alcoolizado pegou uma garrafa de água na geladeira, fez um soro de reidratação e saiu a caminhar na chuva pelo Bairro Xaxim onde se perdeu demorando um bom tempo até encontrar o caminho.

É impressionante como toda viagem para o Paraná alguém do meu grupo se perde.

Enfim escalada!!!

Segundo dia do ano, abrimos a janela às 7h e havia sol. Saímos correndo para a padaria mais próxima, compramos um rango e rumo ao Anhangava que estava a 30 minutos de nossa casa. Chegando lá seguimos as placas e fizemos a opção que parecia mais racional: - Vamos deixar o carro aqui no IAP e fazer essa trilha por que a outra é da galera do vôo livre. Resultado: 1h de caminhada forte e chegamos próximo ao cume. Por sorte encontramos uma dupla escalando que nos deu dicas de como chegar ao Setor Interiores.

É simplesmente indescritível a beleza do lugar, mata fechada, trilha bem cuidada com direito a degraus no estilo via ferrata, abismos e um horizonte de tirar o chapéu. Chegamos à base das vias e surpresa: - Tudo ali era positivo, escalada de aderência algo desconhecido por nós calangos do calcário e ainda por cima a pedra molhada em alguns pontos.

Após muita reclamação Julio tentou equipar uma via chegando à 3 proteção, passando um perrengue e abandonando um cordelete. Entrou na via ao lado costurou 2 chapas e resolveu tocar na linha da via mais ao lado chegando no topo sofrendo com o arraste da corda e levando quase uma hora para armar o rapel, pois não havia força no mundo que fizesse a corda chegar (estava travada na costura que ficou em L já que ele tocou para a via ao lado).

Humildemente tentei entrar em uma via que a primeira proteção estava a uns 10 metros de altura, flui bem, mas bundei na hora de costurar e desescalei igual a uma criança. Entrei na via de menor graduação do local Luar do Sertão (segundo o croqui) onde toquei direto com a algumas adrenadas já que a distâncias entre as proteções ficam a cerca de 7 metros uma das outras e o último movimento é ótimo, finalizei sem problemas. Pati entrou de top rope tranquilamente e Dani também pela via onde Julio escalara. As duas se encontraram a cerca de 30 metros de altura, pois o fim das duas vias era o mesmo foi uma cena interessante o bate papo das baixinhas nas alturas tentando resolver o crux.

Começou a chover o que nos fez recolher as coisas e aceitar o momento mais chato da viagem, pois Rodolfo e Monique não escalaram mesmo estando numa pilha. Voltamos pela trilha com direito a escorregões e uma quase queda de Monique, erramos o caminho e descobrimos que na base do morro havia outro posto do IAP, um estacionamento mais próximo, além do Refúgio 5.13 o que nos pouparia pelo menos 40 minutos de caminhada.

Era  a entrada destinada aos montanhistas, escaladores espertos e praticantes de vôo livre. Caminhamos perdidos pelas ruas do município de Borda do Campo e chegamos finalmente a uma rua que dava para o posto do IAP onde estava nosso carro. Eu, Rodolfo e Julio como bons cavalheiros deixamos as meninas irem sozinhas pegar o carro enquanto tomamos uma coca gelada e jogamos uma sinuca.

Voltamos a Curitiba felizes por finalmente cumprir nossa missão de escalada com direito a comemorações na SOFT TACOS (rango mexicano dos primos da Pati) e mais compras na Território (Monique e Dani não resistiram a variedade de coisas embora com o preço salgado).

 De volta para casa!!!

Deixamos Monique e Rodolfo no aeroporto e passamos o resto do dia nos dedicando à programação da Tv a cabo. É incrível como programas de animais (sobretudo cobras) são capazes de nos manter em frente a TV.

Chegando ao aeroporto no dia seguinte, Dani com destino ao Rio de Janeiro, Julio para Brasília no vôo anterior ao meu e de repente algo aconteceu.

Pasmem!!! Minha passagem mesmo tendo sido paga à vista, no balcão do aeroporto não foi emitida pela TAM. Confusão, correria e o pedido de comprovação do pagamento. Corri por todo o aeroporto, não havia um caixa do Banco do Brasil funcionando e eu entrei em desespero. Pati achou aquele canhotinho de cartão no meio da sujeira que é a minha carteira e salvou meu retorno para casa.

Ao contrário de Julio que detesta escalar no positivo, voltei para casa feliz de ter experimentado um novo estilo de escalada e certo de que apesar da TAM fizemos uma viagem maravilhosa que dá início a um promissor ano de escalada.

 Os projetos "ele não monta na lambreta" e "libera a galera" permanecem na Ilha do Mel esperando o FA. Quem se habilita??? Precisando de um guia ou um seg é só falar.  

 

Escalada é pé na estrada, é risada escancarada e amizade reforçada

Independente de estilo ou grau, escalar é uma vivência espiritual.

Se você não entende a rima, toca pra cima e veja o que acontece

Pois um bom dia de escalada meu amigo, ninguém esquece!!!