quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Baseado em fatos reais 2011 – Uma nova fase.

Namorando firme e com foco na escalada, Júnior  segue sua saga de vida trabalhando, estudando e escalando pelo Planalto Central. Há algum tempo, Dalila vem percebendo um certo desinteresse de Júnior  pelos boulders em Cocalzinho e percebeu que ele está malhando mais, correndo e mudando de hábitos. 

Em  uma sexta feira qualquer aquele tradicional telefonema noturno.

[Dalila] – Eae Amor qual vai ser a escalada nesse fim de semana? Partiu Cocal?
[Júnior]- Então Gata sabe o que é, ando na pilha de escalar outras coisas, mudar um pouco o estilo. 
[Dalila] – Mas tá pensando em escalar alguma coisa diferente?
[Júnior] – Sei lá, o Roger andou botando pilha de fazer  uns lances com ele.
[Dalila] – Como assim "com ele"? Quer dizer que vc não quer que eu vá?
[Júnior] – Pô Dalila , não é bem assim. É que tem um pico lá pro lado de Unai que é meio perrengue, tem que ir agilizado, menos gente essas coisas.

Dalila como boa escaladora de Cocal, nunca sequer ouviu falar de Unai, mas buscou ser compreensiva.

[Dalila] –Unaí ??? Nunca ouvi falar. Vai lá então, eu vou pra Cocal com a Monicão e a galera. Vamos montar um bonde mor. 
[Júnior] – Muito bom, domingo nos vemos e ai você me conta como foi, é até bom porque eu estou fugindo de bonde. 
[Dalila] – Tá bom. 

No fundo Dalila ficou intrigada. Nunca ouvira falar de escalada em Unaí e começou a achar estranho o Júnior querer escalar com o Roger, afinal o Roger nunca vai pra pedra. No fundo da sua cabeça apaixonada a dúvida e o ciúme começam a fazer efeito. 
 
[Dalila] – Ai tem coisa. 

Como  Dalila possuía as senhas de email de Júnior (erro comum na vida de casais) , ela decidiu dar uma vasculhada, afinal em sua cabeça é melhor prevenir do que remediar e esse comportamento do Júnior lhe parecia muito estranho. Toda hora salada, correndo todo dia, malhando resistência nos treinos do Bêra.  Dois ou três cliques depois, caixa de entrada  do gmail e ela se depara com aquela tradicional mensagem "Bate papo com Roger", no momento que viu ela não se conteve e começou a leitura.

[Júnior] –  Então cara tudo certo né?
[Roger] – Tudo certo leke, pode ficar tranqüilo. 
[Júnior] – Mas aê lá é seguro? Tem muita gente?
[Roger] – Cara fica tranqüilo, é seguro e ninguém aparece. Nunca vi um conhecido por aquelas bandas, no máximo alguém local. 

[Pensamentos de Dalila] – Que papo é esse de ninguém conhecido? Esse safado ta com medo de ser visto por que?

[Júnior] – Mas o esquema é tradicional mesmo né? Tô cansado dessas coisas daqui de Brasília. Quero algo diferente, pelo menos duas enfiadas. 
[Roger] – Leke lá a parada menorzinha é de 4 enfiadas. 
[Júnior] – Massa é isso mesmo que eu estou procurando. 
[Roger] – Mas aê tem que levar muita proteção, afinal segurança em primeiro lugar.

[Pensamentos de Dalila] – Filho da Puta, Cachorro, Safado. Tá é marcando de ir pra um puteiro com certeza, e o pior com pedofilia e suruba. Esse Roger nunca me enganou, com esse papinho de vegetarianismo , amor aos animais , eu sabia que esse cara não era santo. Isso não vai ficar assim. 

Em sua raiva irracional Dalila liga na mesma hora para Júnior. 

[Júnior] – Fala Amor, tô aqui arrumando os equipos. Amanhã vai ser pauleira.
[Dalila] – Para de mentir seu canalha, safado. Eu já sei de tudo, de suas fantasias de dupla penetração e suruba. Você é um tarado, pervertido e doente, nunca mais quero te ver. 
[Júnior] – Do que você está falando? Não tô entendendo nada.
[Dalila] – Eu sei dos seus planinhos de ir para lugares escondidos, sem encontrar conhecidos e preocupado em mais enfiadas. Que porra é essa? Nunca pensei que você poderia ser assim, e não tente argumentar, eu li toda sua conversinha com o safado do Roger. 
[Júnior] – kkkkkkkkk. Guria você tem problemas mentais. Essa vida de só escalar em Cocalzinho te fez mau mesmo. Estou indo escalar vias em Unaí. Lá a escalada é de duas ou mais enfiadas ou cordadas como você preferir chamar. Só não te levo porque nunca escalei isso, me preocupo com a sua segurança e você sequer sabe fazer um rapel. 
[Dalila] – Como assim? Duas enfiadas? Escalada trad? É Isso?
[Júnior] – Isso mesmo psicótica, Unaí é o único pico para essa prática aqui perto, depois disso só em Minas Gerais, Rio de Janeiro ou São Paulo. Como você pode desconfiar de mim assim?
[Dalila] – É que você está todo diferente, malhando, correndo e comendo salada. Achei que você estava tentando ficar mais atraente.
[Júnior] – Deixa de ser maluca. Só estou fazendo isso porque escalar horas em uma parede exige resistência e afinal de contas eu fiquei meio gordinho depois das festas de fim de ano. Olha só, vou esquecer esse seu ataque de ciúmes e vou desligar porque amanhã saio daqui as 6h. 
[Dalila] – Desculpe por toda essa loucura, prometo me controlar e parar de investigar sua vida. Boa escalada e aprende direito onde é o lugar pra me levar. 
[Júnior] – Pode deixar. Tchau.

*Roger é um personagem conhecido e emblemático da escalada brasiliense já homenageado aqui no blog. 
**Mais uma prova de que Brasília é um local priveligiado para a escalada, Unaí-MG fica a cerca de 100 km de nossa cidade e possui vias de até 100m, com proteções fixas e móveis. Segundo escaladores  brasilienses há potencial pra muitas vias inclusive esportivas.
*** Agradecimento especial ao Luis (Francês) que soltou uma das piadas aqui contidas e que cobrou ontem novas histórias de Júnior. 

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Pode um fracasso ser divertido?

Desde o ano passado venho me dedicando a melhorar minha escalada e a ter mais foco na minha vida, tentando sempre me manter em movimento e buscando a harmonia entre o corpo e a mente. Uma das atividades que para mim consegue reunir equilíbrio, meditação e foco é o slackline.

Assim como o malabares, quando comecei tive dificuldades, porém com a persistência posso dizer que hj ando com certa facilidade. Minha motivação com o slack não é algo recente e tenho buscado tornar essa uma prática de meditação minha, pratico diariamente, preferencialmente sozinho e em locais sem muito público curioso. Como moro em uma cidade, procuro me esconder em uma área verde próxima a minha casa, mas a proximidade com a rodovia torna as buzinas, gritos e afins um desafio a mais para a concentração, nessas horas só o som alto para ajudar.

Sábado após um belo dia de slack a beira do Lago Paranoá retornei para casa certo de que tava na hora de tentar algo diferente e parar de adiar meus projetos, por mais simples que eles sejam. Chega de ficar especulando e argumentando que preciso de mais equipamentos, ou outros entraves que criamos para bloquear os sonhos.

 Dentre minhas vontades estava praticar o slackline no Poço Azul, buscando agregar o elemento altura e água ao slackline. Já tarde da noite entrei no gtalk, vi o Fera online e decidi que ele seria um bom parceiro para ir comigo, naquele esquema sem bonde, sem muita conversa, só pelo prazer de conhecer um novo lugar ou um velho lugar com um novo olhar. Fera é um brother com uma vibe massa, que sabe valorizar a sutileza das coisas boas da vida e ele prontamente topou.

Saímos de casa às 7:00h e após 64km sendo cerca de 30km de estrada de chão enlameada e esburacada chegamos as 8:30h no poço e já havia gente, e muito lixo o que demonstra os problemas da proximidade de um paraíso desses e a falta de consciência dos frequentadores. Buscamos agilizar o processo de armação do slack, iniciando por uma medição da altura e da largura utilizando um rolo de barbante marcado de metro em metro.

Chegamos a medição de 4 metros de altura de queda e 8 metros de travessia na fita. A chapeleta previamente colocada no local estava completamente solta e quando encostei para aperta-lá com uma chave 14 ela simplesmente caiu no poço, como se o parabolt tivesse sido cortado. Ainda tentei laçar bicos de pedra e armar sem proteção fixa, mas na outra margem percebi um parabolt fixado, porém sem chapeleta. Acabei assim desistindo em nome da segurança.

É claro que foi frustante, o sol tava perfeito e eu já havia feito tanto por isso, e nem mesmo dormi a noite pensando em como seria. Mas decidi que ia curtir mais aquele local. Saltei das pedras experimentando a sensação do que seria a queda da altura do slack, estudei as margens e vi novas possibilidades de proteção para o slack. Fora isso, saquei a sapatilha snake moída pelo tempo e dentro da gruta do poço iniciei minha primeira escalada caindo na água (acho psicoblock um nome meio estranho e muito pretencioso).

Cheguei a subir cerca de 3 metros por uma fenda em oposição e com entalamento de joelho, nada muito difícil, mas a continuidade era em buracos e regletes difíceis para a mão molhada e cada queda exigia natação até a base e todo esforço de novo. Escalei assim por cerca de 1h, entre descansos e entradas minhas e do Fera que também botou pra jogo descalço e com a sapata. Foi uma escalada de descoberta, de cada agarra, do medo dos buracos onde andorinhas e aranhas dormem, mas foi simplesmente incrível. Cheguei a tentar um movimento dinâmico e voar inesperadamente de cara na água e posso dizer cair na água dói mais é engraçado demais.

Meio dia retornamos pra casa após 4h de muita diversão. A frustação do slack não resolvido deu lugar a uma fome de cachoeira, aos calos lixados pela pedra e pela água e a certeza de que o importante é se aproveitar o que se tem e projetar melhor o que se quer viver. A cada dia que passa sinto-me mais agraciado por estas pequenas coisas.

Já no caminho pra casa, em meio a estrada de chão e fazendas dei carona a um andarilho com uma cargueira que estava desde sexta feira acampando pelo cerrado e caminhando em trilhas, ou seja mais uma vez  destino operou e mais um maluco concluiu sua aventura.

Final do dia e eu fico me perguntando se realmente é importante relatar esses acontecimentos, se o simples prazer de ter essas memórias vivas comigo não é o suficiente. Chego a uma pequena conclusão de que escrever essas coisas é minha forma de fotografar minhas vivências, e que faço isso para agradecer a vida por essa e por outras oportunidades.

Ass: Esdras

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Relato e reflexão




Antes de mais nada, este é um post filosófico de um iniciante, repito. Não narro e talvez nunca narrarei grandes vias ou boulders em termos de graduação, mas aprendi a valorizar cada emoção de cada boulder mandado, de cada movimento aprendido, de cada via terminada até o fim mesmo que de top rope. Sou um cara que busca apenas sua própria superação e não tenho vergonha de dizer: - Minha companheira escala mais grau do que eu hehehe.
Esse blog sempre significou para mim o relato de aventuras de um iniciante em uma prática esportiva chamada escalada, aqui gastei parte da minha criatividade em escrever (que não é muita) sobre um esporte. Um esporte simples, primitivo mas que é capaz de causar uma mudança de vida em que passa a ser aficionado por ele. Depois que eu comecei a escalar fui levado a viver grandes descobertas, técnicas, culturas, lugares incríveis, a lidar com o fracasso e saborear as pequenas vitórias, sempre ao lado de grandes amigos e partilhando dessa paixão com a minha esposa, tudo isso em apenas 02 anos. Sim, apesar de apenas 28 (quase) anos sou casado e tenho a grande sorte de escalar com minha companheira.
Esse fim de semana, contrariando a preguiça e o tempo nublado (que tornou-se chuva já no caminho), percorri os tradicionais 120km até Cocalzinho-GO para escalar boulder. Quem me conhece sabe que eu não tenho uma Land Rover capaz de transpor facilmente a pirambeira da estrada do pseudo-parque dos Pirineus e que com esta chuva a estrada torna-se um castigo pro meu carrinho ainda não pago.Porém eu fui até lá. Escalei apenas 3 problemas não superiores a V2 e de repente a chuva desabou.
Já sob o teto da Casa da Cobra ficamos eu e Pati, conversando com Cintia (GO), Zé Roberto e um casal de Goiânia que eu nunca lembro nome, mas que já encontrei em Araxá-GO (desculpa a falta de educação de falar de vocês aqui e nem colocar o nome). Papo vai e papo vem, Eu e Pati decidimos partir na chuva mesmo e voltar para casa, afinal não haveria mais escaladas naquele dia.
Zé Roberto estava ali desde terça feira, bivacando ou acampando, com uma bicicleta, um crash um hallbag e uma mochila e no bate papo ele pergunta se estamos sozinhos e se o carro tava vazio. Resultado, Zé Roberto ganhou sua carona, retornando pra casa, o que por si só já demonstra como o destino opera a favor dos loucos (se alguém refletir ai não é todo carro que cabe 02 crashs grandes, uma bike, um hall bag, e 3 pessoas ou seja mais que uma carona, Zé Roberto ganhou na loteria hehehe). 
Refletindo sobre isso percebi que essa vontade que move a mim um mero iniciante a ficar rodando tantos quilômetros para escalar um período de poucas horas (hoje minutos) é a mesma que leva um forte escalador como Zé a se lançar por dias no compromisso solitário de escalar. É a simples vontade de estar na pedra, de estar conectado com essa energia, que faz parte de qualquer estilo de escalada e em qualquer nível. É resgatar a energia que move a criança a brincar e que para nós urbanóides se perde só sendo encontrada no contato com a natureza.
Hoje estou agradecido, sobretudo pela sorte grande de ter uma companheira que além de me aturar, cuidar de mim e me motivar a ser melhor, compartilha comigo a mesma vibe de querer ir para pedra sem muita gente, sem compromisso, sem projeto, sem competitividade, só pelo simples prazer de escalar, de xingar os erros e comemorar os acertos. Mesmo acordando cedo e de mau humor ela foi hoje pra pedra e só me deu seg, só pra me fazer feliz (na verdade ela deu azar e a chuva começou antes de irmos para algum boulder que ela realmente queria).Sou realmente um cara abençoado.
Muitos escaladores ainda desprezam o boulder enquanto prática e criam a idéia absurda de que boulder não é escalada, a estes eu só tenho uma coisa a dizer. Espero que a felicidade e a diversão que eu sinto ao subir um bloquinho de 2m de altura seja a mesma que você sente ao escalar 20 metros em uma via esportiva ou 200m em uma escalda tradicional. Hoje entendi o que já li em algum blog: O melhor escalador é aquele que mais se diverte.
Por fim (sei que a grande maioria de leitores não deve ter tido paciência com o longo texto) depois de tanta sensação boa fico pensando se realmente vale a pena relatar esse tipo de coisa , mas essa reflexão fica para outro post ou para nenhum mais.

Ass: Esdras

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A VELHICE E A ESCALADA

Mesmo a mais de um mês sem atualizar o blog (mas com muita escalada e slackline rolando) aproveitamos a data de hoje para incentivar a tod@s escaladores que acreditam que estão ficando velhos para a escalada. 
Hoje é aniversário de Alvaro (editor preguiçoso deste blog). Alvaro, no alto de suas 28 primaveras rompidas, mesmo sendo ranzinza como um velho de 60 anos, mantém-se firme e forte na luta para manter-se jovem. Este empresário do ramo hoteleiro é um escalador overall, praticando boulder, escalada esportiva e escalada tradicional sendo um exemplo para os idosos que desejam iniciar atividades outdoor . 

Parabéns Senhor Alvaro Alvares , Tiozinho, Batata, Alvinho....

Fiquem ai com as fotos da última grande aventura deste intrépido escalador