terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Escalada da Virada: Boulder, Aderência e uns quilinhos a mais

25 de dezembro

Natal, ressaca monstro e coração apertado por não comparecer ao tradicional almoço na casa do Caneca (coisas que a promoção de passagens faz).Na fila gigante do aeroporto de Brasília eu e Julio cheio de mochilas, equipos e disposição para escalar no Paraná. Logo de cara inauguro mais uma da série "coisas que só acontecem com o Esdras": a passagem comprada com 1 mês de antecedência não foi creditada pela empresa de cartão de crédito, resultado: confusão, compra de nova passagem à vista e correria com direito a minha queda na escada rolante do aeroporto.

O avião foi um caso a parte. Ficamos a frente da saída de emergência onde a distância para as pernas é curta e a poltrona não reclina. Sorte que o vôo não encheu e pude deitar em três poltronas onde descansei e deixei meu orgulho e dignidade, pois as aeromoças me viram em posições comprometedoras e ainda fedendo a bebida. Saio do avião com a certeza de que todos riam de mim.

Chegando em Curitiba uma grande surpresa, o Sol. Lindo dia, 30°C.Após o tradicional almoço com a família da Pati (com direitos a questionamentos sobre nossa situação conjugal afinal morar junto sem cerimônia de casamento ainda é uma afronta para a sociedade hehehe) voltamos para casa ainda cansados da maratona no aeroporto, definitivamente um dia para comer e dormir.

Dia 26 – Na pilha.

Passadinha na Território (loja de escalada) para comprar aquela calça bonita (hehehe) e um presente pra Pati.Julio consumista também marcou a presa num Anorake Solo. Fizemos amizade com a galera da loja e marcamos para o dia seguinte uma escalada no Anhangava. Eduardo (Território) nos guiaria até as tradicionais vias do granito paranaense. Fomos ao aeroporto buscar Monique e Rodolfo que também estavam motivados para escalar e decidimos partir para a Chácara da família da Pati, tomar banho de piscina, de lago, jogar sinuca e uma cervejinha até a hora de buscar Dani no aeroporto. Tudo estava perfeito, jantamos e fomos dormir cedo ansiosos pela escalada.

Nem fudendo!!!

A madrugada foi de intensa chuva (pense numa chuva) e a todo o momento éramos acordados por trovões e relâmpagos. Às 6h ligo para o Eduardo e pergunto: - Aê Eduardo será que rola de escalar hoje? Resposta: - Nem fudendo, se fizer sol quem sabe amanhã a pedra seca. Lágrimas nos olhos voltamos a dormir revoltados com São Pedro.

A chuva parou, mas o tempo tava feio demais. Após uma rápida assembléia durante o almoço na churrascaria, resolvemos que seria melhor curtir a casa da praia da Pati em Shangri-lá já que a casa em Curitiba estava em obras e estávamos todos dormindo no mesmo quarto. Outra motivação para fugirmos era o constante explodir de fogos de artifício que já estavam enlouquecendo a todos.

Fazer o quê ??? – Praia e boulder!!!

Para nossa surpresa os dias na praia estavam de sol, água morna e transparente como nunca vista no litoral paranaense (juro que parecia a Bahia). Dois dias de muita cerveja, sol e peripécias culinárias como sashimi de robalo, estrogonofe de camarão, ostras e cavala na brasa... Mas faltava algo: a escalada.

Decidimos ir a Ilha do Mel e tentar alguns boulders mesmo sem crashpad, pois a base de areia e nosso nível infantil de escalada não apresentaria grandes riscos. Descemos em Encantadas seguimos para gruta onde existe uma via esportiva completamente enferrujada e encontramos no canto direito da praia um tetinho baixo que merecia um boulder. Abrimos nosso crash (uma esteirinha de plástico do Rodolfo) e fomos a batalha. Julio viu o problema e em menos de 3 entradas fez o FA do boulder Vovó Garota V(ostra). Pati reduziu um movimento forte e abriu a variante Vovó V(zela) repetido por mim. Rodolfo repetiu o Vovó Garota e Dani se machucou inteira tentando o boulder (ralou o sovaco, a barriga... parecia que tinha levado uma surra).

A pedra na Ilha é um caso a parte, uma mistura de Cocalzinho-GO em alguns pontos com abaulados em algo que creio ser granito.

Julio teve a brilhante idéia de darmos a volta na Ilha, sob o Sol escaldante de meio dia. Uma caminhada de 5 km pela beira mar. Valeu a pena, pois aproveitamos para dar um pega em uns boulders que já apresentavam marcas de magnésio e em outras pedras. O lugar é simplesmente alucinante, blocos por toda a extensão da praia, uma gruta com fendas dignas para abrir vias esportivas, é um paraíso perdido, isolado e que infelizmente vem sendo deteriorado pelo lixo deixado pela galera ou trazido pelo mar.

Chegamos ao outro lado da Ilha, morrendo de fome, dedos e braços ralados e com início de insolação, mas felizes demais, pois até o momento era o mais próximo de escalar que chegamos. Passamos o resto da tarde dormindo na praia, tomando banho na enseada e curtindo o sol.

Retornamos para casa em Shangri-lá para mais um dia de comida, praia e morgação.

Virada do ano!!!

A chuva chegou ao litoral e decidimos fugir dela. Visitamos a cidade de Morretes onde comemos o tradicional Barreado (comida "levinha" com carne cozida, farinha acompanhada de casquinhas de siri, camarões, peixe, mariscos, e muita, mas muita banana de todas as formas possíveis).

Todos estavam estufados de tanto comer e retornamos a Curitiba pela Estrada Graciosa que essa época do ano é simplesmente maravilhosa com hortênsias azuis floridas, cachoeiras, abismos com neblina... Vale a pena conferir.

A virada do ano é um caso a parte com muita comida, bebida e choradeira de Pati e família (Pati foi eleita a Mulher Cebola, pois onde passava fazia alguém chorar.Coisa de bêbada).

O dia seguinte foi destinado à ressaca com direito a todos na cama, TV a cabo e muita piada até a noite, pois Rodolfo ao acordar ainda alcoolizado pegou uma garrafa de água na geladeira, fez um soro de reidratação e saiu a caminhar na chuva pelo Bairro Xaxim onde se perdeu demorando um bom tempo até encontrar o caminho.

É impressionante como toda viagem para o Paraná alguém do meu grupo se perde.

Enfim escalada!!!

Segundo dia do ano, abrimos a janela às 7h e havia sol. Saímos correndo para a padaria mais próxima, compramos um rango e rumo ao Anhangava que estava a 30 minutos de nossa casa. Chegando lá seguimos as placas e fizemos a opção que parecia mais racional: - Vamos deixar o carro aqui no IAP e fazer essa trilha por que a outra é da galera do vôo livre. Resultado: 1h de caminhada forte e chegamos próximo ao cume. Por sorte encontramos uma dupla escalando que nos deu dicas de como chegar ao Setor Interiores.

É simplesmente indescritível a beleza do lugar, mata fechada, trilha bem cuidada com direito a degraus no estilo via ferrata, abismos e um horizonte de tirar o chapéu. Chegamos à base das vias e surpresa: - Tudo ali era positivo, escalada de aderência algo desconhecido por nós calangos do calcário e ainda por cima a pedra molhada em alguns pontos.

Após muita reclamação Julio tentou equipar uma via chegando à 3 proteção, passando um perrengue e abandonando um cordelete. Entrou na via ao lado costurou 2 chapas e resolveu tocar na linha da via mais ao lado chegando no topo sofrendo com o arraste da corda e levando quase uma hora para armar o rapel, pois não havia força no mundo que fizesse a corda chegar (estava travada na costura que ficou em L já que ele tocou para a via ao lado).

Humildemente tentei entrar em uma via que a primeira proteção estava a uns 10 metros de altura, flui bem, mas bundei na hora de costurar e desescalei igual a uma criança. Entrei na via de menor graduação do local Luar do Sertão (segundo o croqui) onde toquei direto com a algumas adrenadas já que a distâncias entre as proteções ficam a cerca de 7 metros uma das outras e o último movimento é ótimo, finalizei sem problemas. Pati entrou de top rope tranquilamente e Dani também pela via onde Julio escalara. As duas se encontraram a cerca de 30 metros de altura, pois o fim das duas vias era o mesmo foi uma cena interessante o bate papo das baixinhas nas alturas tentando resolver o crux.

Começou a chover o que nos fez recolher as coisas e aceitar o momento mais chato da viagem, pois Rodolfo e Monique não escalaram mesmo estando numa pilha. Voltamos pela trilha com direito a escorregões e uma quase queda de Monique, erramos o caminho e descobrimos que na base do morro havia outro posto do IAP, um estacionamento mais próximo, além do Refúgio 5.13 o que nos pouparia pelo menos 40 minutos de caminhada.

Era  a entrada destinada aos montanhistas, escaladores espertos e praticantes de vôo livre. Caminhamos perdidos pelas ruas do município de Borda do Campo e chegamos finalmente a uma rua que dava para o posto do IAP onde estava nosso carro. Eu, Rodolfo e Julio como bons cavalheiros deixamos as meninas irem sozinhas pegar o carro enquanto tomamos uma coca gelada e jogamos uma sinuca.

Voltamos a Curitiba felizes por finalmente cumprir nossa missão de escalada com direito a comemorações na SOFT TACOS (rango mexicano dos primos da Pati) e mais compras na Território (Monique e Dani não resistiram a variedade de coisas embora com o preço salgado).

 De volta para casa!!!

Deixamos Monique e Rodolfo no aeroporto e passamos o resto do dia nos dedicando à programação da Tv a cabo. É incrível como programas de animais (sobretudo cobras) são capazes de nos manter em frente a TV.

Chegando ao aeroporto no dia seguinte, Dani com destino ao Rio de Janeiro, Julio para Brasília no vôo anterior ao meu e de repente algo aconteceu.

Pasmem!!! Minha passagem mesmo tendo sido paga à vista, no balcão do aeroporto não foi emitida pela TAM. Confusão, correria e o pedido de comprovação do pagamento. Corri por todo o aeroporto, não havia um caixa do Banco do Brasil funcionando e eu entrei em desespero. Pati achou aquele canhotinho de cartão no meio da sujeira que é a minha carteira e salvou meu retorno para casa.

Ao contrário de Julio que detesta escalar no positivo, voltei para casa feliz de ter experimentado um novo estilo de escalada e certo de que apesar da TAM fizemos uma viagem maravilhosa que dá início a um promissor ano de escalada.

 Os projetos "ele não monta na lambreta" e "libera a galera" permanecem na Ilha do Mel esperando o FA. Quem se habilita??? Precisando de um guia ou um seg é só falar.  

 

Escalada é pé na estrada, é risada escancarada e amizade reforçada

Independente de estilo ou grau, escalar é uma vivência espiritual.

Se você não entende a rima, toca pra cima e veja o que acontece

Pois um bom dia de escalada meu amigo, ninguém esquece!!!

4 comentários:

Júlio Sá disse...

Bôa!!

Na verdade, não é que eu não goste de escalar vias positivas, mas parafraseando no amigo Eduado (da Território), "NEM FUDENDO" eu escalo naquele setor de novo, tão cedo!

Fora a zuação, o lugar é lindo demais (meu joelho agradeceria se tivesse um bondinho pra chegar lá), a companhia do nosso bonde foi sensacional, descobri que o mar da Bahia passa as férias em Shangrí-lá (de tão quente que a água estava) e a escalada... bem, essa ainda promete muito para as próximas viagens!

Valeu AVPAF e até a próxima!

PS: recebi uma mensagem do pai da Dany, reclamando que eu peguei o "produto" inteiro para viajar, e devolvi todo arranhado!
hehehehe

Baldin disse...

Boa rima. É tua Esdras?

Pedro Hauck disse...

Putz cara, vc's tinha que ter ido pro arenito de Sao luis do Puruna. lá eh aluciante, varias vias lindissimas, com teto, agarrao, resistencia e melhor, quase sempre secas (embora a agua saia de algumas fendas e deixa a pedra babada)
O anhangava nessa epoca do ano é um horror de quente! Sem falar que a paisagem dos campos gerais é linda demais... bem mais bonito que o litoralzinho do Estado... hehehe
Ae, foi em cima do Shangri lá que o Rio Branco de Paranaguá, o leão da estradinha, ganhou seu único titulo em quase cem anos de futebol, foi a Copa litoral de 62!
Escalar é cultura!
abs.

Baldin disse...

Enton, coloquei a rima lá no Blog. Abç.