Dia de Reis, 5 de janeiro. Após quase 100 emails rolando na "banda podre" ao longo do dia eu já estava ficando fissurado para escalar. O combinado era realizar um bate volta em Cocalzinho-GO para um night climbing. Fato que para a maioria de nós significava a primeira vez. Possuíamos 3 crashs sendo um deles com as dimensões do Mondo (crash que o Álvaro mandou fazer na Alto Estilo e que ficou playboy) , o carro comportou numa boa.
Minha chefe me chama para uma reunião às 17:45h o que inviabiliza minha saída mais cedo. Partimos do Núcleo Bandeirante às 18:50h já sob uma leve chuva que começou a minar a esperança de escalar. Encontramos a segunda metade do bonde na Via Estrutural (Leandro, Grazi e o inédito em bondes do AVPAF Danielzinho (escalosaurus nanicus comediantus) e mesmo sob a intensa chuva seguimos para Cocal.
Cada km percorrido gerava o desespero dentro do carro pois era muita chuva ainda no engarrafamento em Águas Lindas-Go . Chegamos ao absurdo de ligar para um amigo do Fera em Pirenópolis-Go para perguntar como estava o tempo.
– Por aqui não choveu, mas o tempo tá fechando.
Rodolfo já questionava sob a sanidade do nosso bonde, eu já achava que ia dar merda, o Fera manteve-se calado e Julio oscilava entre um "vamos nessa" e um "p.q.p o que nós estamos fazendo". Algumas frases clássicas deste momento:
- Sabe o que é pior, é que eu sei que vocês não vão desistir e eu nem posso descer do carro. Eu não trouxe um Anorake, vou ter que ficar aqui dentro senão vou morrer de frio!!!
-P.q.p, o Goiás é uma das regiões com a menor umidade do ar no Brasil, tinha que chover logo hoje? Tanta gente pelo mundo precisando de chuva pra plantar.
- Acho que a culpa é do Danielzinho, o cara nunca escalou conosco, foi só ele aparecer que a chuva aumentou.
Todos apelavam para São Pedro pedindo um pouquinho de boa vontade. Nesse momento lembramos dos dizeres da galera do NO DAB e acreditamos na "surrealidade da mágica transcendental e mística de Cocal", local onde a simples fé de escaladores e a energia da rocha evitam que a chuva caia em dias de escalada. Em meio a gritos todos diziam: -Não chove em Cocal!!!
Já em meio à neblina, sem horizonte e próximo a uma subida que permite a visualização de Cocal percebemos que não só o tempo estava mais limpo como rolava um mini pôr do sol em plenas 20h e o asfalto estava seco. Kammonnn !!! A vibração estava de volta. A outra metade parou para comprar pamonhas e seguimos para a Casa da Cobra ou Florestinha*.
Após trancos e buracos da estrada chegamos ao estacionamento onde percebo que esqueci a head lamp, mas Julio me cede uma. O Lampião do Leandro parecia um poste de tão forte, não seria por falta de luz que não escalaríamos. Dispomos os crashs e mochilas na proximidade de boulders famosos como o Mui THC, Limão etc... Danielzinho começa a noite com boas entradas no Mui THC, mas não finaliza por falta de coragem (tava só aquecendo hehehe). Leandro e Julio se encaixam bem, mas não fluem. Rodolfo e eu levamos aquela surra para tentar o movimento inicial e nada. Resolvemos ir para algo mais simples.
Escolhemos um tetinho que possuía uma pedra inferior, agarras invertidas (babadas) e movimentos bem definidos. Danielzinho depois de muito custo manda bonito e da descida aplica uma voadora com os dois pés no Julio; Leandro chega bem, mas não domina, Julio entala o joelho no teto, manda um foot hook nas alturas, se banca, e na virada não acha nada e não domina. Eu me surpreendi comigo mesmo ao conseguir fazer os movimentos iniciais do boulder, mas era forte demais para mim, assim como Rodolfo que fluiu bem mas não mandou. Fera entra e passa perrengue no movimento inicial e fica por isso mesmo. Grazi manda um chimarrão quentinho estimulando a galera.
Danielzinho decide repetir o boulder, faz outra leitura, vem firme e no momento da pendulada chuta minhas partes baixas e as do Fera. Eu até tentei ficar calado fazendo cara de seg, mas precisava expressar a dor. Quando achei que ele estava bem, já na virada do boulder solto com a voz fina de dor, a frase: - Carai o cara chutou meu saco!!! Danielzinho despenca do alto do boulder tendo uma crise de risos seguido de todos no local.
Já recuperados do riso, tentamos ainda um boulder que segundo Rodolfo chama-se "Concreções" ou "Fezes" (???), ninguém evoluiu o boulder mesmo após Rodolfo decifrar o movimento inicial. Partimos para uma aresta bem quebradiça que foi mandada por Danielzinho e Leandro.
A alimentação foi um caso a parte: pamonhas, bananas, bombons, mas o destaque vai para o x-egg-salsicha-bacon-salada-plus que pingava óleo levado pelo Danielzinho e destruído pelo Rodolfo (discípulo do Bêra**). Até um rato do local babou pelo sanduba.
Danielzinho: –Olha aquela constelação é o Cinturão de Órion.
Rodolfo: -E aquela outra ali se chama "o hambúrguer sumiu".
Para finalizar fomos para o bloco do "Bem Vindo à Casa da Cobra" onde realizei uma boa entrada, mas não consegui mandar pela dor nas mãos. Leandro manda o boulder de papetes e Danielzinho de tênis, Julio entra, queima a mão e deixa pra lá por que já mandou. Então para finalizar a surpresa da noite, Fera manda o boulder sem chorar.
Na volta pra casa, às 2h da madrugada meu carro fica sobre uma pedra já no final da estrada do parque. Descemos, arrastamos um pouco o carro que saiu numa boa. Voltamos na estrada passando sustos pela existência de cachorros e animais na pista, o carro na reserva da gasolina e falando merda aos montes para vencer o sono. Rodolfo estréia o quarto de hóspedes da minha casa inaugurando também o crashpad do Álvaro como cama.
Como toda a primeira vez doeu um pouco, passamos momentos de medo e ansiedade (como na hora que o alarme do carro do Leandro disparou) e nossa atuação não foi das melhores, mas ao final foi muito bom e todo mundo ficou querendo mais.
Semana que vem FERCAL by Night nas vias esportivas, quem se habilita???
Fugindo da rotina que fere nos como açoite
Desafiamos nossos limites na calada da noite
Testamos nossa fé, mantendo a esperança
Que após a tempestade sempre vem a bonança
Aos olhos do mundo um momento banal
Aos nossos a descoberta do poder celestial
Que mesmo diante da chuva torrencial
Mantém seca e abrasiva a pedra de Cocal!!!
Veja algumas fotos dessa empreitada.
*Há setores e boulders em Cocal que possuem dois ou mais nomes. Não temos a menor intenção de entrar nesse debate.
**Rodrigo "Bêra" (escalosaurus nanicus) é famoso por sua habilidade de solicitar e consumir o rango de seus companheiros de escalada.
Minha chefe me chama para uma reunião às 17:45h o que inviabiliza minha saída mais cedo. Partimos do Núcleo Bandeirante às 18:50h já sob uma leve chuva que começou a minar a esperança de escalar. Encontramos a segunda metade do bonde na Via Estrutural (Leandro, Grazi e o inédito em bondes do AVPAF Danielzinho (escalosaurus nanicus comediantus) e mesmo sob a intensa chuva seguimos para Cocal.
Cada km percorrido gerava o desespero dentro do carro pois era muita chuva ainda no engarrafamento em Águas Lindas-Go . Chegamos ao absurdo de ligar para um amigo do Fera em Pirenópolis-Go para perguntar como estava o tempo.
– Por aqui não choveu, mas o tempo tá fechando.
Rodolfo já questionava sob a sanidade do nosso bonde, eu já achava que ia dar merda, o Fera manteve-se calado e Julio oscilava entre um "vamos nessa" e um "p.q.p o que nós estamos fazendo". Algumas frases clássicas deste momento:
- Sabe o que é pior, é que eu sei que vocês não vão desistir e eu nem posso descer do carro. Eu não trouxe um Anorake, vou ter que ficar aqui dentro senão vou morrer de frio!!!
-P.q.p, o Goiás é uma das regiões com a menor umidade do ar no Brasil, tinha que chover logo hoje? Tanta gente pelo mundo precisando de chuva pra plantar.
- Acho que a culpa é do Danielzinho, o cara nunca escalou conosco, foi só ele aparecer que a chuva aumentou.
Todos apelavam para São Pedro pedindo um pouquinho de boa vontade. Nesse momento lembramos dos dizeres da galera do NO DAB e acreditamos na "surrealidade da mágica transcendental e mística de Cocal", local onde a simples fé de escaladores e a energia da rocha evitam que a chuva caia em dias de escalada. Em meio a gritos todos diziam: -Não chove em Cocal!!!
Já em meio à neblina, sem horizonte e próximo a uma subida que permite a visualização de Cocal percebemos que não só o tempo estava mais limpo como rolava um mini pôr do sol em plenas 20h e o asfalto estava seco. Kammonnn !!! A vibração estava de volta. A outra metade parou para comprar pamonhas e seguimos para a Casa da Cobra ou Florestinha*.
Após trancos e buracos da estrada chegamos ao estacionamento onde percebo que esqueci a head lamp, mas Julio me cede uma. O Lampião do Leandro parecia um poste de tão forte, não seria por falta de luz que não escalaríamos. Dispomos os crashs e mochilas na proximidade de boulders famosos como o Mui THC, Limão etc... Danielzinho começa a noite com boas entradas no Mui THC, mas não finaliza por falta de coragem (tava só aquecendo hehehe). Leandro e Julio se encaixam bem, mas não fluem. Rodolfo e eu levamos aquela surra para tentar o movimento inicial e nada. Resolvemos ir para algo mais simples.
Escolhemos um tetinho que possuía uma pedra inferior, agarras invertidas (babadas) e movimentos bem definidos. Danielzinho depois de muito custo manda bonito e da descida aplica uma voadora com os dois pés no Julio; Leandro chega bem, mas não domina, Julio entala o joelho no teto, manda um foot hook nas alturas, se banca, e na virada não acha nada e não domina. Eu me surpreendi comigo mesmo ao conseguir fazer os movimentos iniciais do boulder, mas era forte demais para mim, assim como Rodolfo que fluiu bem mas não mandou. Fera entra e passa perrengue no movimento inicial e fica por isso mesmo. Grazi manda um chimarrão quentinho estimulando a galera.
Danielzinho decide repetir o boulder, faz outra leitura, vem firme e no momento da pendulada chuta minhas partes baixas e as do Fera. Eu até tentei ficar calado fazendo cara de seg, mas precisava expressar a dor. Quando achei que ele estava bem, já na virada do boulder solto com a voz fina de dor, a frase: - Carai o cara chutou meu saco!!! Danielzinho despenca do alto do boulder tendo uma crise de risos seguido de todos no local.
Já recuperados do riso, tentamos ainda um boulder que segundo Rodolfo chama-se "Concreções" ou "Fezes" (???), ninguém evoluiu o boulder mesmo após Rodolfo decifrar o movimento inicial. Partimos para uma aresta bem quebradiça que foi mandada por Danielzinho e Leandro.
A alimentação foi um caso a parte: pamonhas, bananas, bombons, mas o destaque vai para o x-egg-salsicha-bacon-salada-plus que pingava óleo levado pelo Danielzinho e destruído pelo Rodolfo (discípulo do Bêra**). Até um rato do local babou pelo sanduba.
Danielzinho: –Olha aquela constelação é o Cinturão de Órion.
Rodolfo: -E aquela outra ali se chama "o hambúrguer sumiu".
Para finalizar fomos para o bloco do "Bem Vindo à Casa da Cobra" onde realizei uma boa entrada, mas não consegui mandar pela dor nas mãos. Leandro manda o boulder de papetes e Danielzinho de tênis, Julio entra, queima a mão e deixa pra lá por que já mandou. Então para finalizar a surpresa da noite, Fera manda o boulder sem chorar.
Na volta pra casa, às 2h da madrugada meu carro fica sobre uma pedra já no final da estrada do parque. Descemos, arrastamos um pouco o carro que saiu numa boa. Voltamos na estrada passando sustos pela existência de cachorros e animais na pista, o carro na reserva da gasolina e falando merda aos montes para vencer o sono. Rodolfo estréia o quarto de hóspedes da minha casa inaugurando também o crashpad do Álvaro como cama.
Como toda a primeira vez doeu um pouco, passamos momentos de medo e ansiedade (como na hora que o alarme do carro do Leandro disparou) e nossa atuação não foi das melhores, mas ao final foi muito bom e todo mundo ficou querendo mais.
Semana que vem FERCAL by Night nas vias esportivas, quem se habilita???
Fugindo da rotina que fere nos como açoite
Desafiamos nossos limites na calada da noite
Testamos nossa fé, mantendo a esperança
Que após a tempestade sempre vem a bonança
Aos olhos do mundo um momento banal
Aos nossos a descoberta do poder celestial
Que mesmo diante da chuva torrencial
Mantém seca e abrasiva a pedra de Cocal!!!
Veja algumas fotos dessa empreitada.
*Há setores e boulders em Cocal que possuem dois ou mais nomes. Não temos a menor intenção de entrar nesse debate.
**Rodrigo "Bêra" (escalosaurus nanicus) é famoso por sua habilidade de solicitar e consumir o rango de seus companheiros de escalada.
2 comentários:
Foi dia 06 (SEIS)!
Amei o relato :)
Grande babysauro, dia 05 não é dia de Reis.
Mas o relato ficou irado. Congratulations.
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