quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Proibido Escalar na Gruta Rei do Mato (Sete Lagoas)

Em ofício encaminhado à FEMEMG e assinado pela Diretoria de áreas protegidas: Nádia Aparecida da Silva Araújo (Diretora de áreas protegidas IEF/MG) "A PRINCÍPIO FICA SUSPENSA A PRÁTICA DE ESCALADA NA ÁREA DO MONUMENTO NATURAL ESTADUAL GRUTA REI DO MATO ATÉ QUE SE TENHA O PLANO DE MANEJO DESTA UNIDADE QUE SE ENCONTRA EM ELABORAÇÃO"
Fonte: FEMEMG - Federação de Montanhismo e Escalada de Minas Gerais.

Vamos torcer para que esse Plano de Manejo saia, porque o Morro do Cabeludo (Cocalzinho-GO) até hoje nada.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Palavras do Profeta - 3

Negocio da China é:

-Comprar o celular xing-ling ultima geração, para ouvir um som na pedra;
-Achar comprador para clip stick feito de cano de PVC;
-Comprar a sapatilha Five Ten Galileo por 217,55 reais no site da Equinox que errou o preço.

5.10

Sete Lagoas fechada para escalada! Será?

Segundo o Luciano do Blog de Escalada, Sete Lagoas esta sendo fechada para escalada e estão retirando algumas chapeletas para evitar que o pessoal escale. Mas vamos aguarda um pronunciamento por parte do Fred, do Abrigo 7L, ou por parte da FEMEMG.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Reportagem Investigativa

Queridos leitores deste singelo Blog, como bem sabem, também faço parte desta tríade que tem relatado diversas aventuras vividas no meio "escaladorístico" de Brasília, bem como dos vários episódios hilários, que só acontecem conosco e com os que nos cercam. Todavia, ainda não tinha me pronunciado em nenhuma "matéria" formal, pois estava no meio de um sério trabalho investigativo, que buscava desvendar o seguinte mistério. "Onde meus colegas Álvaro (vulgo, Batata), Fernando (vulgo, Fera), Rodrigo (vulgo Bera), Rodolfo (vulgo, Rodolfo mesmo) e Esdras (com um nome desses, nem precisa de apelido...), estavam recebendo um volume significativo, como aporte para seus investimentos em viagens e equipo de um modo geral???" Após quase 3 meses de investigação, que me fizeram conhecer alguns dos lugares mais estranhos que já se teve notícia, tais como: inferninhos em Taguá, Bailes Funk no RJ, Bingos da Terceira Idade e Casas Funerárias locais, descobri o paradeiro de meus amigos... ...encontrei pistas de onde eles se encontravam nos momentos em que, misteriosamente, todos os seus celulares se apresentavam desligados e ninguém tinha notícias de seus paradeiros... Para minha surpresa, estavam se apresentando em uma Casa de Shows de Brasília, nas proximidades do Setor de Oficinas do Riacho Fundo, como podem verificar no vídeo abaixo. O vídeo foi feito com o auxílio de uma das velhinhas que entravam no "espetáculo", em troca de uma caixa de cola para dentaduras e um vidro de Condroitina, (remédio usado no tratamento de Reumatismo).
As cenas são fortes e não recomendáveis para menores de 18 anos!
Clique aqui.
De toda sorte, gostaria de deixar aqui registrado, meu apoio aos queridos amigos, e minha total compreensão aos atos por vocês praticados Ósculos e amplexos.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Um bom dia para escrever um péssimo dia para viver

Após minha demonstração de falta de habilidade com o novo clip stick que geraram sorrisos marotos dos "espeleólogos" (rapeleiros) do curso na FERCAL. Abortei a missão de subir pela Libélua e acompanhei Julio na subida pela "leve trilha" que facilmente chega a uma via de 4º.
Todos sabem o quanto estávamos empolgados em escalar a via Tráfego Aéreo (6º) que já havia nos deixado na mão em uma ida anterior a Fercal (relato "aberta a temporada de vôos). Julio chegou decidido:
–Vou equipar a primeira solando.
A necessidade suicida de nosso amigo já é conhecida por todos e mesmo com o clip stick na mão ele estava decidido. Como bom amigo que sou coloquei a trilha sonora adequada: banda Apocalíptica tocando "Nothing else matter", pois violinos são ótima pedida para funerais.
O clima era perfeito, a música era perfeita, a via era perfeita e Julio seguiu com ritmo e tranqüilidade que me lembravam a mina do Dean Potter (Steph Davis) solando. Clipou a primeira costura para alívio da musculatura do esfíncter do seg e seguiu. Julio já estava próximo à terceira proteção e de repente grita:
–Desce, desce, desce rápido!!! Porra abelha!!!


Desci Julio na velocidade permitida pelo Gri-gri e logo estávamos ambos andando em círculos fugindo de um enxame de abelhas. Julio estava com ferrões grudados na cara, na cabeça, e barriga. Eu levei uma no pescoço. Após idas e vindas das abelhas, Julio acende um cigarro de palha na crença popular de que fumaça espanta abelha. Nesse momento o inchaço e vermelhidão dos olhos de Julio assustavam e veio a constatação, "02 costuras e a corda na via cheia de abelhas".

Álvaro já se comunicava conosco do topo da libélula, perguntou se estava tudo bem e comunicamos o ocorrido o que gerou risadas infames.
Ficamos alguns minutos calculando o melhor procedimento para recuperação do equipamento (desde entrar por uma via do outro lado da pedra, o bom e velho rapel do cordelete, e se agente tivesse asas? e outros delírios).
–Rodolfo, Rodolfo... você está bem!?

Todos na base da via Sem Noção percebo que Rodolfo está com a moral derrubada pela surra na Libélula. Batata como escalador empolgado resolve equipar a via e mostrar como se passa o primeiro movimento (mamilos, pé direito péssimo). Equipou com quedas e isolou os movimentos.


Chamei Rodolfo para me dar seg resgatando a parceria vitoriosa que nos levou a várias cadenas em Sete Lagoas. Tentei fazer o primeiro movimento como o Álvaro ensinou e não rolou ai tive a brilhante idéia de entrar pela direta como havia feito antes. Álvaro falou a célebre frase:
–Pode até entrar assim, só não pode cair porque a pendulada é foda.
Eu estava decidido, entre bem subi até a altura de costurar, mas meus pés e pernas tremiam tanto que não conseguia. Meu óculos caiu, tentei descer um pouco e falei :
–Rodolfo trava que eu vou cair!!!
Pendulei de uma vez, choquei com Rodolfo, cai perto do chão por cima dele e neste trajeto ouvi um som seco. Era a cabeça de Rodolfo batendo na pedra.
–Rodolfo, Rodolfo... você está bem!?
Rodolfo meio grog dava sinais de que a pancada foi forte, mas ele sobreviveria. Após piadas de sempre resolvemos parar um pouco e comer.

Rebekka como uma tradicional alemã trouxe um salsichão e queijo suficiente para alimentar uma família de 10 pessoas. Só faltava cerveja e suspensórios. Julio ainda entrou na via, mas apenas até a metade pois estava se poupando para a recuperação do equipamento.


Eu e Julio colocamos os anourakes, fechamos os capuzes, óculos escuros e fomos para a missão das abelhas. Nesse momento a temperatura deveria estar próxima dos 30c° e diversos membros do curso de espeleologia já estavam transitando pelo local colocando inúmeras cordas, mosquetões e fitas que me lembravam as ascensões do K2 que eu vi em vídeos.
Julio novamente na via passou pelas proteções já costuradas, equipou a terceira e chegou ao topo. Nesse momento a barriga existente na pedra não me permitia mais vê-lo e fiquei com os ouvidos atentos esperando o clipar da corda na última costura. Nada de som. Sem comunicação fiquei em posição para travar o gri-gri e para caçar a corda caso ele caísse. Enfim ouvi a costurada e travei Julio para os procedimentos.
Ao olhar para cima a imagem era desesperadora. Julio inteiramente rodeado de abelhas que batiam no anourake, nas pernas até na sapata. Urubus rondando no céu e rapeleiros admirados e falando alto, pedi educadamente:
–Faz silêncio ai galera o cara tá rodeado de abelhas.
–Vixi é verdade, desculpa ai.
O silêncio reinava e cada movimento de Julio era seguido de minutos de paralisia total para tentar acalmar as abelhas. De repente inicia-se um som de sirene, era o maldito gavião sirene, velho conhecido. Seu som característico deu lugar a um piar semelhante a uma gargalhada intensa a ponto de perder o ar. Na certa havia nos reconhecido da outra investida na via. Na seg as abelhas me rodeavam, fiquei parado e meditando na crença de que a mente é capaz de espantar abelhas.
Julio terminou o procedimento e eu o desci rápido. Nunca vi alguém soltar um "nó oito" tão rápido: - Pega tudo ai que eu já levei picadas demais. Recolhi todo equipamento e me juntei ao grupo na Sem noção. Jamais o nome de uma via fez tanto sentido para mim. Tráfego aéreo de abelhas, urubus, gaviões, marimbondos.
A presença de Julio e inúmeras abelhas deu início a um outro auvoroço de abelhas em um enxame na base da via Mestre dos Magos. O mundo fora tomado por abelhas!!!
Álvaro e Rodolfo deixaram o orgulho de lado e pediram para usar a corda fixa dos rapeleiros para fugir dali. Com muita generosidade eles deixaram. Julio desceu correndo pela trilha, Rebekka foi primeiro no rapel (cavalheirismo ou falta de coragem dos marmanjos???) seguida pelo Rodolfo.
Estávamos eu e Álvaro na fila do rapel quando pensei, "Geralmente todas as merdas acontecem comigo, hoje tudo deu errado, eu sou o último nesse rapel, vou acabar caindo lá embaixo". Ponderei entre a possibilidade de quebrar uma perna na trilha e morrer no rapel e escolhi a trilha.
Lá embaixo todos juntos e Julio exausto pelo calor e ainda cercado de abelhas. Agradecemos a galera da espeleologia e vazamos pela trilha. Reiteirei o capuz e ao passar pelas "abelhas cachorras" na trilha (parede das vias Brutus e Neolítico) meu cabelo foi tomado por elas. Felizmente essas abelhas não picam, mas mordem.
Julio tirou as vestimentas, estava com as mãos inchadas, a cara inchada e sua camiseta devia ter um litro de suor. Já na estrada de chão, todos erguendo as mãos aos céus e agradecendo a vida e de repente passa a galera do MotoCross levantando poeira forte. Dos males o menor, antes sujo e vivo que limpo e morto.
Tomamos aquela coca-cola gelada no boteco acompanhada de meio quilo de salsichão da Rebekka que havia sobrado e entramos no carro.
Como disse Álvaro:
–Um bom dia para escrever um péssimo dia para viver.


Leia também Desce, desce, desce rápido!

sábado, 19 de setembro de 2009

Desce, desce, desce rápido!

O telefone toca, olho rapidamente no relógio, são 7 da manhã, atendo em tom raivoso:
–Alô!
O Esdras do outro lado diz:
–E ae “leke” vamos escalar? Você viu que choveu a noite toda pra caralho, né?
–Vi Esdras, pra que você esta me ligando agora? Não combinamos 7h30?
–Então, liga pro Rodolfo para ver se choveu em Sobradinho.
–Ta “vei”, vou pensar nisso.
Ligo para o Rodolfo:
–E ae Rodolfo choveu ai?
–Não sei!
–Caralho muleke, que sono pesado da porra.
– “Vei” vou ver aqui e te ligo.
–Beleza!
Espero a ligação do Rodolfo e finalmente o telefone toca (cinco minutos depois):
–Pô “vei” ta tudo seco aqui e o cumulus nimbus está limpo.
Fico pensando que porra de “cumulus nimbus”, mas retransmito a mensagem para acalmar a ansiedade do Esdras, que responde:
–Então é nóis “leke”.
O Júlio passa aqui, pegamos o Esdras e de lá rumamos para o Lago Norte para podermos pegar nossa nova amiga Rebekka, alemã, recém chegada na capital, que começou a treinar na Ibiti há umas três semana e vez a besteira de aceitar o convite para essa barca furada para a pedra. Na casa do Rodolfo trocamos de carro e seguimos para pegar a estradinha de terra, ou seria de poeira. Fico pensando na pobre Rebekka em um carro com quatro marmajos, que ela viu uma vez na vida em uma mesa de boteco. Acho que ela só aceitou porque a Grazi estava na mesa e sugeriu dela ir escalar com a gente. Eu achava que a Grazi tinha juízo.
Na porta de Seu Valdemar (dono da Fercal) vemos o já tradicional grupo de motoqueiros e um grupo de “rapeleiros” então sugiro rapidamente junto com alguém:
–Vamos logo! Que eles vão para a Corpos e a Libélula.
Apertamos o passo e chegamos na base da duas vias antes. Candidato-me a subir primeiro na Libélula para poder tirar umas fotos e ajudar nossa amiga Rebekka lá em cima com os procedimentos, pois, a idéia inicial é escalar a via Sem Noção, 6sup, e malhar a via Mestre dos Magos, 7b. O Julio impaciente resolver ir lá pra cima fazendo o caminho da "escalaminhada", junto com o Esdras e escalar a Trafego Aéreo, 6º.
Antes os dois protagonizam uma cena ridícula, empolgados com o “clip stick” novo tentam sem sucesso equipar a primeira chapeleta da Libélula. Até mesmo os “rapeleiros” acharam graça daquela cena.

Já em cima da Libélula escuto o Julio gritar:
–Desce, desce, desce rápido!
Espero algum tempo e pergunto:
–Esta tudo bem?
Escuto uma resposta positiva. E já imagino que tenham sido abelhas, mas para não assustar o pessoal que está em baixo e a Rebekka que está na via, deixo os dois se virarem.

A Rebekka e quase que içada por mim e pelo Rodolfo e chega aos “trancos e barrancos” na parte de cima da Libélula. O Rodolfo começa a subir e também chega ao final da via acabado. Depois de pagar alguns sapos pra ele, pergunto:
–O que foi Rodolfo?
–Cara estou acabado, acho que vou embora.

Depois do Rodolfo se recuperar, terminei de desequipar a via e chegamos a base da via Sem Noção...

...continua.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Como mobilizar 21 mil pessoas para fazerem uma coreografia?

- Primeiro arrume uma banda internacional;
- Escolha o show de aniversario de uma apresentadora de TV famosa (detalhe isso é uma surpresa para ela);
- Use a internet (site, blog, orkut, facebook, myspace, twitter, newsletter...) para mobilizar 800 fãs;
- Peça para esses fãs convencerem outras 20 mil pessoas a fazerem a mesma coreografia;
- Comece com uma louca na frente do palco dançando sozinha (não sei porque lembrei da minha irmã);
- Depois de um tempo coloque mais uma duzia de loucos juntos;
- De repente todo mundo dança junto e não existem mais loucos;
- Pronto, é só filmar tudo.



Dica: Renata Alvares

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Palavras do Poeta

Após o comentário um pouco "agressivo" de Vovó Garota (Patrícia Caetano) no post Relato da Viagem a Sete Lagoas, lembrei-me daquelas fotos sobre o Vietnam onde uma mulher colocava uma flor na arma de um soldado.
Como não gosto de brigas escrevi um poema para selar nossa amizade.


Vovó garota por que tanta maldade?
Você deve saber, mau humor é coisa da idade.
Pobre de mim, simples brasiliense
Fraco escalador e artista circense.

Ao ouvir de você tamanha infâmia
Cheguei a pensar que Brasília era Goiânia!
E em meio a risadas tive que constatar
Sua necessidade de se auto-afirmar.

Vovó garota, menina marota,
Sem rancor algum preciso perguntar:
- Trinta anos realmente é muita idade
Para inviabilizar nossa amizade???

Bocó, papo ruim e desprovido de humor
Você pegou pesado, te peço o favor.
Em suas heresias não meta o Senhor,
Pois Ele não tem culpa cara colega,
Se pensas que no humano contém uma ameba.

Ofensa de internet é pura besteira
Em nada reflete a hospitalidade mineira
Dos mineiros que conheço você foi a primeira
A levar tão a sério uma simples brincadeira.

No fim desta rima ainda cabe uma emenda,
Não julgue tão rápido esta mera oferenda,
Desculpe a métrica, por favor não se ofenda,
Caso haja na poesia algo que você não entenda!

Deixo ainda o convite: Venha visitar Brasília!
Conhecer no Planalto essa grande maravilha,
Nossa terra tem poucas montanhas isso é verdade,
Mas acima de tudo aqui reina a humildade
Para não julgar inteligência pelos anos da idade!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Relato da viagem a Sete Lagoas

Esta viagem começou na verdade a mais de dois meses. Com o retorno de Julio da Serra do Cipó-MG. Começamos a priorizar os fins de semana na pedra antes quinzenais agora semanais. Depois de idas e vindas na Fercal-DF, Cocalzinho-GO e Belchior-GO surgiu o desejo de viajar e conhecer algo novo. Claro que eu sei que sou iniciante e não mandei nada por aqui, mas em matéria de viagens até que posso tirar onda (ao todo já são 20 estados brasileiros conhecidos). Ávido leitor de todo e qualquer site de escalada me deparo com as constantes novidades de Sete Lagoas-MG e senti que aquele era o lugar certo para minha primeira trip de escalada. O próximo passo era convencer os demais integrantes.
Demorei cerca de 30 segundos para convencer Julio, outros 2 dias para convencer Álvaro e lancei o convite a Rodolfo e Fernando (Fera) na esperança de formar um bonde de 5 pessoas. Faltava apenas o habeas corpus junto às esposas, superado rapidamente pela proximidade do STF e pelas milhas da TAM de Julio e minhas que mandaram para longe as promotoras de acusação hehehe. O Fera rodou, pois conseguiu um novo emprego e assim éramos 4 aventureiros prontos e decididos a contrariar as previsões do tempo que falavam em chuva durante todo o fim de semana.
Entrei em contato com abrigo, peguei mapa, Julio conseguiu GPS (apelidado de Maria) e na sexta-feira (04/09) partimos rumo a Sete Lagoas sem almoçar, mas com sanduíches providenciados pela DJ. O assunto no carro limitava-se a escaladas, mulheres, carros e, sobretudo ao trabalho psicológico para que Rodolfo supera-se a síndrome do TRAVA . Maria sofria da mesma doença que Rodolfo, uma tendência incontrolável de sair da rota da via, mas não atrapalhou, pois de Brasília a 7L é uma reta (BR040).

1º dia - Aê você é o Fred?
Chegamos em 7L após 7 horas de viagem somadas a meia hora de idas e vindas na rua do abrigo que não segue nenhuma lógica numérica a não ser par de um lado ímpar de outro. Chovia e a inscrição do número da casa do Abrigo é bem apagada
Na porta do Abrigo a surpresa

– Ninguém em casa!

A fome apertava, o cansaço da viagem também e alguém pergunta:

- Aê Esdras liga pro Peixe, o Fred disse no email que era pra ligar pra ele.

Lembrei que não peguei telefone algum e começa então os xingamentos de meus companheiros que ameaçavam me jogar na lagoa para que eu achasse o Peixe. A única coisa sensata a fazer era ir comer e torcer para quando voltarmos eles já estarem em casa.
Fomos direto para as margens da Lagoa do Paulino o único referencial de diversão em 7L (todos menos a Maria sabiam como chegar lá). Após avaliarmos as inúmeras opções gastronômicas de 7L optamos por aquela que mais chamou a atenção – a torre de 4 litros de chopp – quero dizer pizza.
Ao entrarmos na pizzaria olho para todas as mesas com a sensação de que todos olham para nós e reparo em um rosto familiar. Como bom telespectador do CSI lembrei que vi aquela cara em algum site e pela camiseta era escalador.

– Aê você é o Fred?
– Não, eu sou o Peixe.

A mesa estava ocupada por Peixe, Isabela (namorada do Peixe), Dany Andrada Cover (Ricardo Cosme), Ângelo Gomes, Dolph Lundgren (na verdade o nome do maluco era Matt Halls) e por Raquel Guilhon. Quando ouvi a galera do Rio de Janeiro (população famosa pela afinidade com a boêmia) falar que ia dormir às 21 horas em plena sexta feira, eu tive certeza que eles levavam a escalada a sério. Dolph, no entanto não nos dirigiu a palavra, mas descobrimos que ele fizera isso por que era escocês e provavelmente não entendera nada do que falávamos.
Após o chopp e a pizza fomos ao abrigo dormir e nos prepararmos. A vontade de todos era dormir até as 8 horas da manhã (afirmada pelos alarmes previamente ajustados), porém o sol invadiu o quarto às 06h e rapidamente todos já estavam de pé e arrumados. Rodolfo dirigiu-se ao banheiro e ao dar de cara com Dolph tomou um susto tão grande que adiou por um dia a defecação.
Perguntamos aos cariocas como chegar a pedra e para lá rumamos, no caminho pausa para um café e compra de mantimentos em uma padaria e uma longa espera pelo desfile de crianças de alguma escola local. Saímos da cidade e como todo bom brasiliense acostumado com números nas ruas, nos perdemos!
Após o telefonema para o Peixe (sim agora já possuíamos o número) chegamos ao estacionamento jurando que a caminhada até a base da via era algo semelhante à Fercal (metros de pura tortura) e nos surpreendemos, menos de 15 metros de trilha e estávamos no Setor 45.
Fred Viana e uma galera mineira já malhavam a via Dupla Dinâmica (8b) numa parede negativa jamais vistas pelos candangos acostumados com a verticalidade de nossa região. A opção foi "dar um peguinha" na via Felomônio (7a/b) negativa com agarras perfeitas.
O escolhido para equipar a via foi Julio que passou o primeiro lance tranqüilo equipando até a penúltima proteção por conselhos de Fred que falou sobre as abelhas no fim da via. Batata entrou na via, desenvolveu bem malhou os movimentos, Rodolfo entrou bem, mas pediu para travar na altura da terceira proteção e então entrei na via e pasmem... Não passei do primeiro movimento.
Já com lágrimas nos olhos e pensando: - O que é que eu vim fazer aqui! Assisti Alex (Alexander Gessner), um paulista acelerado entrar na via com uma trilha sonora questionável, mandar em menos de dois minutos equipando a última chapa sem nem ver abelhas. Julio entrou, tomou quedas desequipou a última chapa e então deu início a aula que nenhum dos brasilienses conhecia: "Como passar um perrengue monstro desequipando uma via negativa". Rodolfo entrou para ajudar e foi calmamente desequipando, caindo e quase me aleijando na seg.
Seguimos ao Setor Intermediário que estava distante cerca de 200 metros por uma trilha limpa e suave. Chegando lá percebemos a quantidade de vias em uma única parede com uma galera escalando. O primeiro destaque foi a entrada de Raquel (mina carioca) que atropelou uma via 8b com um ritmo constante. Ao lado estava Dolph equipando um 8c/9a (Dois Lados) com um clip stick profissa. Nesse momento Álvaro já havia repensado seu preconceito com clipstick e quase perguntou por quanto Dolph vendia o dele.
Eu, na tentativa de superar o trauma da Felomônio pensei comigo: - Eu não mando nada mesmo, estou aprendendo a guiar e essa parede tem pelo menos umas 5 vias entre 5º e 6º grau. Decidi pela terapia da positividade. – Vou mandar tudo o que está ao meu alcance e se possível equipando e guiando.
Álvaro e Julio se jogaram em um 6ºsup mineiro que facilmente seria um 7a brasiliense (sem diminuir nossos escaladores, mas a via tinha um movimento dinâmico para um reglete que era cabuloso).
Rodolfo como bom e generoso amigo me deu seg em duas vias Quase Perfeito (5º) e Nas Profundezas do Armário (5º) encadenando as duas também para desequipar. Decidi entrar na Aranha Sai de Mim (6º) equipei inteira até o topo, bundei na hora de costurar e cai (mas eu considero que mandei pq equipei até o fim). Rodolfo encadenou e Julio entrou para limpar a via.
Mais uma vez Rodolfo demonstrou que a ausência da esposa compromete o esporte. Não comprou comida e ficou choramingando dizendo:

– Meus braços estão me puxando para cima.

Todos refletimos que na escalada essa é a função dos membros superiores, mas o que o nobre colega quis dizer era que estava com câimbras insurpotáveis.
Álvaro aproveitou a existência de um 7c (Perdidos na Noite) equipado pela galera carioca e aproveitou para malhar também. Aproveitamos o restinho da tarde assistindo aos mineiros e paulistas escalando tudo no Setor Intermediário. Retornamos ao Abrigo (coisa de 10km de carro) tomamos aquele banho merecido e ficamos trocando idéia com os demais habitantes na cozinha. Legal perceber o interesse da galera de outros estados em escalar em Cocalzinho-Go faz a gente valorizar o que temos próximo de casa.
Fomos para o centro de 7L que nada mais é do que as margens da Lagoa do Paulino, e caímos na besteira de ficar dando voltas a pé (após toda escalada) até decidirmos pelo mais óbvio comer na ferinha e beber cerveja em algum bar. Após pastéis e churrasquinhos lá estávamos em uma mesa de bar bebendo na companhia de Peixe e namorada, 6º (Luciana Barros) e Vovó Garota (Patrícia Caetano).
Conversa vai, conversa vem o grupo decide passar no Abrigo e seguir posteriormente para algum boteco Rock'n Roll. Nesse momento eu quase desisti e dormi (Rodolfo também dava sinais de derrota) mas tinha certeza que a noite prometia histórias e me mantive firme. Após rodar todas as ruas de 7L encontramos o bar fechado para reformas. O mais lúcido a fazer seria ir para casa, mas não! Quem está no inferno abraça o capeta, fomos a Cabana do Peixe beber as saideiras.
A mesa do bar parecia uma conferência com inúmeros assuntos. Batata já demonstrava interesse e pontos comuns com 6º (coisa de comunicadores sociais), Peixe e namorada já estavam desmaiando na cadeira e eu, Rodolfo e Julio ficamos suportando os papos de Vovó Garota (assim apelidada pela estranha necessidade de afirmação de sua idade avançada em relação aos demais membros da mesa). Retornamos ao Abrigo certo de que aquelas cervejas seriam cobradas na pedra no dia seguinte.

2º dia - "Mestre dos Magos"
O sol mais uma vez foi generoso e às 7 horas estávamos prontos e de banho tomado rumando para a padaria. Ao chegar lá e comer o pão com ovo mais sem graça da minha vida acompanhado de café, Julio como bom atleta buscou o suplemento indicado para todos: Coca-cola gelada em uma garrafa de 1250ml de vidro (coisas que só 7L tem). Mais animados procuramos rango em outro lugar, mas não arrumamos nada.
Nosso objetivo era passear e conhecer os demais setores (quem sabe escalar um pouco após a ressaca passar). Fomos para o Setor Carinha (Bloco Carinha) com vias altas e alucinantes. Já estávamos pensando em qual entrar quando Fred surgiu como o "Mestre dos Magos" informando a graduação e betas das vias e sumindo rapidamente. Após uma análise pouco criteriosa Julio decide equipar algo que para ele era uma 7a. A primeira costura colocada a seg a postos e Julio realizou apenas o primeiro move e desistiu (parecia algo insano demais). Depois da surra resolvemos retornar ao Setor intermediário passando pelo Setor Macumba.
Incrível a variedade de vias e estilos em 7L cada hora é uma surpresa. O Setor Macumba representa uma cúpula negativa ao extremo com concreções insanas, mas nada acessível ao nosso grupo. Na passagem entre o Setor Macumba e o Setor Antigo encontramos novamente o "Mestre dos Magos" Fred que apontou dois 6ºsup. Julio equipou bem a via "Do Cabulete" caindo em alguns movimentos. Rodolfo e eu entramos de Top Rope e Batata atropelou a via no estilo speed climb(mas estava de top rope). Começou a chuviscar, mas nada que assustasse.
Fomos ao Setor Antigo onde fizemos fotos idiotas. Interessante a semelhança da parede deste setor com o Vale da Lua na Chapada dos Veadeiros-GO (é um vale da lua na vertical e sem água). Este setor é um mar de vias com abaulados.
Decidimos ir escalar de verdade no Setor Intermediário. Eu e Rodolfo entramos em um 5º positivo, mantendo minha terapia de equipar e encadenar.
Julio e Batata malharam a Metamorfose da Buterfly 7a e para finalizar o dia após minha insistência entramos na Ressaca(6ºsup). Essa é uma via clássica do Setor Intermediário, com agarras inéditas e descansos como "entalamento de corpo". Batata equipou com quedas, entrei costurando até a 3ª costura e cansei (retornei a Brasília com este trauma) e Julio limpou.
Retornamos ao Abrigo na certeza de não repetir a noite de bebedeira já que partiríamos no dia seguinte após meio dia, ou seja teríamos mais uma manhã de escalada.Na cozinha do Abrigo ficamos curtindo as mixagens de Dolph que agora já se tornara nosso amigo e conversando com a galera carioca. Um fato espantoso era Dani Andrada Cover malhando pesado após um dia de escalada. Senti-me culpado e abri uma cerveja hehehe.
Sentamos para comer carne (proteína necessária) e beber cerveja. Falamos todas as asneiras possíveis e voltamos ao abrigo para beber e curtir som.

3º dia - TRAVA!!!
Mais uma vez acordamos cedo, arrumamos tudo e fomos para a pedra resolver algumas pendências.
Batata afirmou que encadenaria a Felomônio (7a) sacando costura (como demonstra seu olhar na foto). Entrou bem, caiu na penúltima proteção, mas terminou de equipar. Como choveu muito a noite, Álvaro descobriu agarras encharcadas e passou os betas para Julio que entrou em seguida e encadenou (mesmo com toda a umidade da pedra). Entrei novamente, fiz o primeiro move, segui bonito e quando ouvi a frase :

- Se estiver bem costura!

Lembrei que não estava de Top Rope e adrenei "TRAVA!!!". Rodolfo entrou e malhou os movimentos demonstrando que com um pouco de estímulo a cadena seria possível (quem sabe na próxima).
Fomos ao Setor Intermediário e Batata insistiu em entrar em um 7a. Pela disposição em equipar todos achávamos que ia rolar até o fim mas Álvaro desistiu na 3º proteção e lançou a campanha "Não abandone seu Cordelete" fazendo o rapel pelo cordelete e recuperando o mesmo.
Após as despedidas entramos no carro certos de que 7 Lagoas era um local mágico, acessível a todos os níveis de escaladores, com uma galera gente boa demais e que vem realizando um grande trabalho em prol da escalada no Brasil (como o Fred diz "é uma galera com alma de sherpa").
Difícil foi conter a constante vontade de comparar a acessibilidade e a quantidade das vias com as dificuldades do Planalto Central (a Fercal nunca mais será a mesma). Depois de grandes debates sobre graduações (comparando a perspectiva mineira e candanga) desembarcamos com uma pizza quentinha nos esperando e com a certeza de que essa foi a primeira de muitas.

Fotos

Palavras do Profeta - 2

Em homenagem a compra de equipamentos dessa semana lembrei do Profeta e suas sábias palavras.

ALEGRIA DE POBRE...

É ter um amigo (ou cunhado) chegando dos EUA trazendo equipo barato

É promoção em site de escalada

É pegar carona em um bonde pra pedra

É comprar a sapata do mané que pediu pelo site e errou o número do pé.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Domingão na Fercal - Suor, farofa e alegria.

Rodolfo dando um "pega" na El Demo
Final de semana após a “trip” para Sete Lagoas todos muito empolgados para escalar no DF, mesmo sem as bases limpas, trilhas curtíssimas e a seqüência de vias mandáveis uma do lado da outra. Eu e o Júlio não mandamos nada de novo, mas conseguimos isolar todos os movimentos da El Demo, 7c/8a, que pareciam impossíveis. O Esdras mandou Grayskull, 6sup, e o Rodolfo também, que voltou confiante e agora escalando fácil. As meninas ainda não guiam, mas estão bem fortes e tudo é questão de tempo para elas. O Esdras continua reclamando que estamos decotando as vias, tudo culpa da temporada mineira.

El Demo

Júlio mostrando que as aulas do Tio Bera vem dando resultado. Olhem o posicionamento do garoto.


quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Mais fotos de Sete Lagoas

Abrigo 7L



Rodolfo no Setor 45

Esdras guiando tudo no Intermediário

Cariocas e o Dolph

Malhando um 7c


Rodolfo em um 6sup, com um "movi" de 7a. Hehehehe!


Esdras em mais uma do Setor Intermediário

Fingindo pagar umas barras

Macumba

Palhaçada

Setor Antigo

Julio

Esdras malhando a Ressaca 6sup. Rs!

"Brother" que é "brother", equipa tudo e ainda descobre os betas para o parceiro

Photoshop

Final do dia no Abrigo...

...ouvindo um som...

...e cansado de um dia de escalada.
Obrigado ao pessoal do Abrigo 7L em especial a Fred e Peixe.

PALAVRAS DO PROFETA !!!

Em uma viagem para a República de Camarões conheci um sábio escalador que vivia escondido nas montanhas daquele lugar. Em alguns dias pude coletar algumas faíscas de seus pensamentos iluminados que irei compartilhar com vocês. Para cada momento na vida de um escalador há sempre um provérbio consolador. Relembrando o último dia em Seven Lakes (em breve relataremos).

DEPOIS DA TEMPESTADE VEM SEMPRE A ...

A via molhada;

Agarra babada;

Preguiça;

Pneumonia.

Sete de setembro em Sete Lagoas




Julio na via Felomonio, 7a/b.
Em breve mais detalhes...

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

BASEADO EM FATOS REAIS




Tudo começou recentemente. Comecei a notar meu filho meio estranho. Mudou o jeito de vestir, começou a falar palavras diferentes e certamente havia mudado de amigos. Vi também um certo resíduo de pó branco em suas roupas e seu apetite diminuíra rápido parecia que estava de dieta.
Como todo bom pai passei a observar todo seu comportamento. Saindo muito cedo e chegando tarde e sujo aos sábados e domingos. Notei que certas vezes ele voltava com cara de extasiado, cheirando a suor e com um semblante vitorioso. Outras vezes retornava chateado e deprimido, mas nunca agressivo.
Falei com minha esposa e ela também havia notado que ele estava com novos hábitos, não bebia mais refrigerante, recusava frituras, tendo atitudes ecológicas como coleta seletiva do lixo e com um papo de que o plástico solta substâncias que causam câncer.
Ela achava que ele havia entrado para alguma religião ou seita, até pesquisou na internet e estava indecisa se ele agora seria straight edge, rastafári, ecologista, hippie...
Certamente havia algo errado. Perdi o sono durante 2 dias.
Pensei no pó branco, na magreza, nos fins de semana sumido e sem atender o celular (que dava sempre fora da área de serviço) e não tive a menor dúvida:
–É DROGA NA CERTA! ESSE MENINO TÁ CHEIRANDO!
De repente o telefone toca e pego a extensão para ouvir a conversa.

[AMIGO] –Eae aê leke tudo certo?
[FILHO] –Tudo certo ele vai trazer tudo da gringa e baratinho.
[AMIGO] –Vai querer o quê?
[FILHO] –Tem Gri-Gri, Costura e qualquer tipo de equipo pra segurança.

Pensei comigo: Gri-gri e costura deve ser droga de rave, agora equipo de segurança eu não entendi.

[AMIGO] –Então leke é de qualidade mesmo? Olha lá da última vez que fui pra pedra, subi com parada usada acabei no veneno, adrenei, levei uma queda foda.

Meu Deus ele deve ter tido convulsão por overdose de droga malhada e ainda quer mais.

[FILHO] –Leke fica de boa! Tá louco? É tudo zero, mas o pagamento é à vista.
[AMIGO] –Então só, vou confiar. - Quero um Gri-gri que é meio caro, mas estou precisando; doze costuras, e uma corda. Mas tem que ser maior que 9mm, porque 9mm é muito fina e não agüenta o tranco. Na real queria um crash também, mas nem rola é muito grande pra trazer.

Senhor o que eu fiz para merecer isso! Além de drogado meu filho é traficante!!! Agora está claro, equipo de segurança é arma pra defender boca de fumo. Ele está achando que é o Zé Pequeno do Cidade de Deus. Eu vou matar esse FDP.

[FILHO] –Vai querer só isso tudo?
[AMIGO] –Pow pensando bem traz uma solteira e duas sapatas "Five ten".

Além de drogado e traficante meu filho é cafetão de puteiro bizarro. Nem imagino o que devem ser duas lésbicas Five Tem. Acho que eu vou infartar, meu braço está dormente.

[AMIGO] –E faz o seguinte pede pra ele tirar as etiquetas, colocar tudo em uma mochila de 60 litros, declarar que é presente porque se os milicos pegarem na alfândega já era.

[FILHO] –Só! Vou dar o toque nele.
[FILHO] –Mas aê nem grila. Ele está com esquema forte, traz todo mês e tu pode pedir pelo email. É nóis. Alô?Alô?

Cheguei alucinando. Chutei a porta do quarto e falei:

–Qual é muleque você está maluco? Transformando minha casa em boca de fumo? Quando achei que você estava cheirando fiquei com dó, acreditei que era doença. Agora traficante cafetão é demais!!! Você! Um estudante brilhante, concursado, trabalhando fazendo essas coisas?

Dei um tapa na cabeça dele.

[FILHO] –Pai me escuta!!! De onde você tirou isso? O senhor está bem? Quer que eu chame o doutor? O senhor tá tremendo!
–Agora vai querer negar tudo? Eu ouvi você encomendando armas, drogas e mulheres pelo telefone. Garanto que era o Batata, ou o Bêra ou o Fera. Isso lá é nome de amigo de um homem de quase trinta anos?
[FILHO] –Pai pelo amor de Deus! O senhor está surtando? O que mesmo que o senhor ouviu ou viu?
–Eu vejo na sua cara. Você magro, sumindo aos fins de semana e voltando sujo, ora alegre ora triste, pó branco em suas roupas. E ouvi o senhor encomendando Gri-gri, costuras e uma arma maior que uma 9mm. Não sei o que é pior cair na pedra de crack ou explorar mulheres!
–E para de rir que eu vou chamar a polícia.
[FILHO] –Pai o senhor é demais! Assim você me mata.
[FILHO] –Estou magro assim porque voltei a fazer atividade física, Gri-gri e costuras são equipamentos de segurança, o pó branco é magnésio e uma corda maior que 9mm é uma corda para iniciantes em escalada. Encomendei de outro país por que no Brasil é tudo muito caro.
–E as sapatas e solteiras?
[FILHO] –Solteira é um anel de fita resistente para realizar procedimentos de segurança em rocha. "Sapata" é a abreviação de Sapatilha. Vem cá olha as fotos aqui no computador. Eu estou escalando pedras por isso viajo aos fins de semana.

LEMBRE-SE: ESCALADA VICIA. SEMPRE AVISE SEUS FAMILIARES QUE VOCÊ FOI ESCALAR.

*As gírias e expressões deste texto correspondem ao linguajar dos escaladores de Brasília.

Leia também BASEADO EM FATOS REAIS 2

terça-feira, 1 de setembro de 2009

No domingo das Índias!!!

Pegando o costume de narrar as brilhantes aventuras de nosso grupo de destemidos escaladores escrevo mais uma epístola narrativa. Tudo começou às 6:00h quando comecei a mandar mensagens telefônicas , primeiramente ao Luiz (famoso por em sua primeira escalada se enrolar na hora de sair e por dormir nas bases das vias) e Julio que como sempre recebeu bem o meu bom dia telefônico destinando-me felicidades em relações anais.

Todos no carro (Batata, Esdras, Julio, Dani e Luiz) iniciamos a viagem rumo ao Belchior-GO. É claro que a esta hora da manhã o assunto ficou restrito a escaladas e viagens contando com as histórias de Luiz que de maneira ingênua nos ofereceu casa na praia em Santa Catarina.

Sabendo da via que escalaríamos inicialmente colocamos o maravilhoso disco da novela Caminho das Índias com o hit "Na cara, na cara" para entrar no clima (sim galera o Batata tem um cd de MP3 com os três discos da novela e mais um monte de porcaria).

Chegando a pedra rumamos para a recente aberta Namastê (6º sup) (parabéns Leandro, Grazi e colaboradores) brilhantemente equipada por Batata fazendo o lance inicial por um trajeto pouco recomendado para iniciantes como eu. Permanecemos na base da via tomando um Chimarrão e curtindo a escalada. Entrei na via por um início alternativo e mais fácil tocando bem e me sentindo à vontade embora não tivesse disposto a guiar (fui de top blefe mesmo). Luiz entrou na via e para a surpresa da nação conseguiu fazer o 1º lance semelhante ao Batata demonstrando que a memória faz parte da escalada (já que há 3 meses o mesmo não chegava perto de pedra ou de resina).

Dani entrou na via pelo mesmo caminho alternativo que eu e mandou bem demonstrando que sua falta de estatura pode ser superada por movimentos bem colocados de pés, passou um perrengue no meio da via e conseguiu desabar uma pedra do tamanho de um Gri-gri que quase me acertou (seg) fazendo com que eu passasse a adotar o capacete apesar das críticas e xingamentos relacionados ao meu cabelo hehehe.

Julio (nosso prodígio) estimulado pelas entradas anteriores tentou o movimento inicial e após uma bela escorregada ganhou inteiramente grátis uma depilação indiana nas canelas, mas retornou em seu estilo "ou vai ou racha" e encadenou.

HARE BABA!!! Para aqueles que estão se perguntando, Luiz não negou a tradição e dormiu na base da Namastê (mesmo após um litro de chimarrão), pela cara de felicidade deve ter sonhado com a Maya.

Após a entrada no Salão inicia-se o velho debate "- Eae vamos escalar o quê?" seguido por frases como : "-Eu não entro na "Mais Garrão" nem fudendo já enjoei " levando a todos a optar pela inédita (para mim, Luiz e Dani) "Cacos de Copos" (6º). Novamente nosso professor Batata equipou a via se permitindo fingir que fez um "foot hook" em um movimento que foi superado pela velha força física.

Entrei na seqüência (mais uma vez de top) e desenvolvi bem, porém no mesmo movimento do falso "foot hook" do Batata caí ao tentar rebotar. Retornei e finalizei a via abraçando a geladeira em um movimento infeliz e pouco prático. Na seqüencia Luiz entrou e passou perrengue até finalizar. Não lembro se o Julio entrou ou não na via (seqüelas da idade) só lembro-me da atitude de Dani em subir, passar perrengue e desequipar a via aos sons de mantras, reclamações e impropérios de Julio (namorado incompreensivo e grosso) e das calmas orientações do "Bandit" Batata. Este episódio demonstra como a mulher ainda é oprimida na Indía. hehehe

Todo mundo bem e feliz (o casal demorou apenas alguns minutos para retornar a harmonia indiana) resolvemos fazer o início da "Boitatá" (cujo início até o teto corresponde a um 7º mas em sua totalidade a via é um 10a intenso ). O objetivo dessa entrada era fazer valer a viagem de nossos escaladores mais fortes (Julio e Batata).

Com sangue no olho Batata inicia a via equipando e gastando muito para passar o primeiro lance. Após passar bem seguiu apanhando e finalizou a via dizendo: "- Vou entrar pra tentar a cadena".

Tentei sem compromisso entrar e nem passei do primeiro movimento, uma pinça de esquerda sem pé. Mas valeu o suor e o aprendizado. Aliás essa via é marcante pela ausência de pés. Em mais um momento "vê se aprende criança" outro escalador (o nome é Gabriel mas não sei o sobrenome) que estava em outro grupo malhando vias como a "Selva de Pedra"(9º) entrou de Sandálias Havaianas para me ensinar e fez o primeiro movimento tão rápido que demorei um pouco para assimilar e perceber que não era pra mim.

Luiz entrou na via com seu estilo maroto e fez o lance da pinça muito bem, chegando ao pequeno platô utilizando-se da técnica "se arrasta e ajoelha". Após ver o perrengue que seguiria desistiu e desceu satisfeito de superar o movimento inicial.

Julio (já desestimulado por seus momentos pouco auspiciosos) entrou, passou bem o lance da pinça e gastou tudo o que tinha para se erguer no platô também de joelhos (parecia que a galera tava cumprindo promessa para Shiva ou Ganesha ). Fez uma leitura em braile dos movimentos seguintes e desistiu (o que todos sabemos que gerará um trauma só remediado pela cadena. Faz parte do karma do garoto).

Neste momento já estávamos discutindo as correntes do direito, o papel da filosofia na sociedade e se a Playboy da Mulher Melancia era PhotoShop quando Batata se ergueu.

No ápice da emoção Batata retorna a via fazendo cara de Stallone em Rambo e passa tranquilamente os primeiros lances. Chegando bem acima do Platô e então algo aconteceu. Assim como em Rambo I nosso herói foi atingido por algo (perdeu os pés, não se posicionou bem, não alcançou a próxima mão) e despencou emitindo grunidos e palavrões. Será necessária pólvora para cauterizar e espinhos para suturar a ferida de mais uma perda de cadena por deslizes com os pés (ele já fez algo parecido na via "Sem Noção" da FERCAL). "as lamparinas do juízo de Batata ficaram sem azeite no meio da via".

Sem mais nada a fazer retornamos a Brasília ao som de "Na cara, na cara" música que fez todo sentido para a escalada desse domingo. Pelo caminho o assunto em destaque era se os pais devem deixar seus filhos(as) dormirem com os namorados(as) em casa. Luizão o único pai e ainda por cima de uma menina de 15 anos perdeu o sono.

Deixo vocês com os ensinamentos do escritor indiano Gibran Kalil Gibran que em seu livro O profeta nos explica :

O prazer é uma canção de liberdade, mas não é a liberdade.

É o desabrochar dos vossos desejos, mas não seus frutos.

É um chamamento profundo para as alturas, mas não é profundo nem alto.

É o encarcerado a ganhar asas, mas não é o espaço que o circunda.

Sim, na verdade, o prazer é uma canção de liberdade.

E bem gostaria que a cantásseis com todo o vosso coração;

No entanto, não percais os vossos corações nos cânticos.

Alguma da vossa juventude procura o prazer como se isso fosse tudo, e esses

são julgados e punidos.